O Ecossistema Empreendedor dos Açores

É com considerável apreço, e inegável reconhecimento, que registo a acção, eficaz e socialmente actuante, que tem vindo a ser exercida, ao longo dos últimos anos, na Região Autónoma dos Açores, nos domínios do Empreendedorismo e do apoio ao investimento nas PME, cuja importância e vitalidade se tem traduzido na execução de um conjunto de interessantes medidas tendentes a proporcionar um visível reforço da competitividade e desenvolvimento económico desta Região.

A assinalar esta dinâmica, registe-se, desde logo, o Gabinete do Empreendedor, da iniciativa da DRACE – Direcção Regional de Apoio à Coesão Económica, e que pela notória utilidade que esta inovadora medida comporta ao nível do atendimento personalizado e especializado a empresas e futuros empresários, seria igualmente desejável a aplicação deste conceito no Continente, por forma a permitir passar a dar respostas adequadas quer aos sonhadores, que nem sabem por onde começar, quer aos pequenos empresários experientes que tentam dar o salto e evoluir para uma nova fase de desenvolvimento. Também da iniciativa deste mesmo Organismo público, surgiu a Revista Empreender, destinada a publicar informações de natureza diversa com interesse para os agentes económicos, constituindo justamente o presente texto o meu contributo para a concretização desse fim.

O Concurso Regional de Empreendedorismo, afigura-se como outra importante medida lançada pela Secretaria Regional da Economia, destinada a estimular a participação dos jovens, com idades compreendidas entre os 18 e os 35 anos, na actividade económica, através da criação de negócios inovadores.

Não menos importante, revela-se o Sistema de Incentivos ao Empreendedorismo designado Empreende Jovem, tendo como um dos principais objectivos estimular o incremento de uma nova cultura empresarial, baseada no conhecimento e na inovação, introduzindo em simultâneo uma cultura de risco e vontade empreendedora, e bem assim o Sistema de Incentivos à produção de Energia a partir de fontes renováveis designado ProEnergia, tendo em vista estimular o aproveitamento dos recursos energéticos endógenos para a produção de electricidade ou para a produção de outras formas de energia.

A merecer semelhante menção, refira-se o Centro de Empreendedorismo da Universidade dos Açores, tendo em vista estreitar a necessária aproximação e cooperação que deverá existir entre as universidades e as empresas, por forma a permitir que o conhecimento produzido pelo sistema nacional de inovação tenha impacto significativo na economia e que a divulgação de uma cultura inovadora contribua para o aumento, com sustentabilidade, da competitividade empresarial.

Ainda de referir, o importante contributo que a APIA – Agência para a promoção do Investimento dos Açores, tem vindo a prestar ao nível da promoção e divulgação das oportunidades e vantagens decorrentes do investimento na Região Autónoma dos Açores.

E a assinalar a promessa de continuidade desta dinâmica empreendedora, refira-se a realização, na ilha de São Miguel, durante os próximos dias 22 e 23 de Novembro, do Primeiro Salão do Empreendedor, com o principal objectivo de aproximar jovens com ideias inovadoras das entidades envolvidas na criação de um negócio, e ainda, o lançamento, na próxima semana, do Manual do Empreendedor, que servirá como um instrumento de informação destinado aos jovens que pretendam criar um negócio.

Estas são, efectivamente, algumas das mais notórios iniciativas que comprovam a dedicação absorvente por parte das diversas entidades e Organismos a actuar na Região Autónoma dos Açores em prol da construção de um ecossistema favorável ao Empreendedorismo.

Criados que estão os alicerces que sustentarão o referido ecossistema, faltará, agora, desenvolver algumas vertentes sólidas que confiram ao mesmo a garantia de uma evolução contínua traduzida numa crescente captação de financiamento para projectos que se encontrem nos seus ciclos iniciais de desenvolvimento, e, consequentemente, confiram à economia regional os adequados índices de competitividade, indutores de um crescimento económico sustentável.

Refiro-me, desde logo, à criação de um Fundo de Capital de Risco Seed Capital – à semelhança, por exemplo, do Fundo de Capital de Risco criado na Região Autónoma da Madeira, designado “Madeira Capital” – com o objectivo de reforçar o tecido empresarial açoriano, através do investimento em PME, sedeadas nos Açores, com elevado potencial de crescimento.

Patente convergência com a iniciativa anterior assumirá a criação de um Fundo de Capital de Risco Universitário com o envolvimentonão somente do meio universitário mas também de Business Angels, Private Equity, Corporate Ventures, etc a actuar nesta Região, como forma de potenciar o acesso directo das Universidades a Fundos de Capital semente que lhes permita aplicar os resultados da pesquisa cientifica em novos negócios e/ou produtos. Veja-se, a exemplo, que em Inglaterra esta realidade já existe desde 1998, data em que foi criado o 1º UNIVERSITY CHALLENGE COMPETITION – ao qual foi destinado um valor inicial de 64 milhões de Euros.

Outro importante factor de êxito do referido ecossistema, seria o Ensino do Empreendedorismo junto das Escolas Secundárias e Técnico-profissinais, tomando como exemplo o resultado da experiência já produzida no Continente e na Madeira pela GesEntrepreneur – empresa do Grupo Gesbanha – através da ut
ilização da metodologia “learning by doing”
, a qual permite desenvolver nos jovens competências de cariz empreendedor, tais como a inovação, trabalho de equipa, autonomia, tomada de decisão, liderança, comunicação e criatividade.

A criação de um Clube regional de Business Angels em Ponta Delgada e, eventualmente, em Angra do Heroísmo, a actuar localmente e a facultar não só “seed capital” para os projectos nos seus ciclos iniciais de vida mas, fundamentalmente, a experiência empresarial de que os business angels são detentores, seria outra medida igualmente positiva a acrescentar ao leque de iniciativas já existentes.

A implementação de uma estratégia sustentada de crescimento das Corporate Ventures junto das principais empresas da Região, tal como a EDA – Electricidade dos Açores, baseada numa politica de investimentos em projectos portadores de inovações tecnológicas comercialmente atraentes (como por exemplo, projectos nas áreas das energias renováveis), também não passará seguramente despercebido neste cenário.

Seria, igualmente, importante que se procedesse ao lançamento de uma forte campanha de divulgação dos mecanismos de apoio financeiro que se encontram actualmente ao alcance dos empreendedores açorianos bem como das vantagens associadas ao financiamento via capital de risco (refira-se, a exemplo, os excelentes resultados obtidos ao nível da Garantia Mútua em consequência da forte campanha de comunicação realizada pela respectiva sociedade gestora).

Relativamente ao Concurso Regional de Empreendedorismo que já se encontra a ser desenvolvido na Região, e a que atrás fiz referência, seria positivo dotar este concurso com verbas mais significativas do que as que se encontram actualmente orçamentadas, na ordem dos 10.000,00, para a totalidade dos prémios (registe-se que, em França, esta iniciativa contou com € 30 milhões), por forma a permitir aos empreendedores premiados iniciar, desde logo, os seus projectos com um capital mínimo adequado.

Concomitantemente, o lançamento de um Plano Regional de Incubadoras e de Parques Tecnológicos, que conferisse aos mesmos a dinâmica de centros geradores de negócios, seria outra medida igualmente positiva tendo em conta a elevada apetência das Incubadoras e dos Parques Tecnológicos para a melhoria da performance de negócio das empresas, a ampliação das suas fontes de capital e a aceleração do seu desenvolvimento.

Seria igualmente interessante, a adopção por parte dos Organismos da Região de mecanismos favoráveis à adjudicação de serviços a start-ups, à semelhança aliás do que acontece nos EUA, onde mais de 23% dos orçamentos dos Organismos públicos é realizado por serviços prestados por empresas emergentes.

A latere, a criação de um observatório das start-ups inovadoras, tendo em vista identificar as melhores práticas adoptadas pelas start-ups da Região e os factores de sucesso que contribuem para a sua sobrevivência e crescimento. Tal medida, comporta significativa utilidade não só para os empreendedores que lideram start-ups inovadoras avaliarem a sua conduta, como para todos os agentes que lhes estão intimamente ligados.

E, finalmente, como factor não menos importante ao êxito de um ecossistema que se pretende favorável ao Empreendedorismo será a adopção de uma nova atitude dos gestores, públicos e privados, responsáveis pela implementação dos Programas existentes, e a criar, perante os projectos em fase “early stage”, que se espera também mais renovada e orientada para o potencial de valorização dos projectos desenvolvidos por empreendedores qualificados e altamente responsáveis pelos resultados com que se comprometem.

É, pois, indispensável que tais gestores, públicos e privados, no momento de avaliar os projectos, tenham a necessária visão que lhes permita seleccionar aqueles que, independentemente dos tradicionais critérios financeiros, apresentam uma efectiva possibilidade de vir a alcançar êxito, pois somente assim será possível contrariar a ausência de resultados verificada durante o 1º semestre de 2007 relativamente à actividade de capital de risco em Portugal, a qual, por oposição à actual tendência europeia, não assinalou durante aquele período um único investimento em “seed capital”.

Afinal, quem melhor do que estes empreendedores – intelectualmente bem preparados, com bons níveis de educação formal, criativos e inteligentes – para, através dos seus projectos inovadores e beneficiando do conjunto de acções atrás referidas, incrementar a competitividade e o desenvolvimento económico dos Açores?

Denote-se, que os empreendedores açorianos deparam-se com oportunidades de negócio únicas decorrentes dos recursos naturais, do clima e dos factores ambientais desta Região que não poderiam ser mais propícios!

Os Açores são consideradas, por alguns dos mais reputados especialistas em turismo sustentável, as segundas melhores ilhas do Mundo para se passar férias de qualidade. A acrescer a tal facto, esta Região dispõe de uma riqueza marinha notável e de fontes hidrotermais de alta pro
fundidade capazes de abrir novos caminhos à Ciência.

Trata-se, pois, de um paraíso natural portador de um “Oceano de oportunidades” , no qual os Empreendedores açorianos têm um importante papel a desempenhar, especialmente nas áreas do turismo, hotelaria, biotecnologia marinha, tecnologias oceânicas, agricultura biológica e energias renováveis.

É neste cenário que as medidas acima enunciadas fazem todo o sentido, na medida em que representam a forma mais idónea para um efectivo desenvolvimento dos novos modelos de negócio e das empresas nascentes. Um projecto que utilize, por exemplo, elementos marinhos para aplicação nas áreas da farmacêutica, dos cosméticos, da aquacultura e das pescas e da protecção do ambiente, dependerá necessariamente da existência de um eficaz Programa de incentivos para as áreas da biotecnologia marinha, bem como da existência de parcerias entre cientistas, engenheiros e gestores através de uma eficaz aproximação do meio universitário ao meio empresarial – no fundo, de todo um conjunto de factores interligados que constituem o ecossistema acima referenciado – para que possam vir a atingir um crescimento e uma dimensão à escala do mercado global.

E o mesmo se afirmará relativamente à generalidade dos projectos nas restantes áreas, cujo sucesso dependerá de uma acção concertada na implementação de iniciativas unidas num esforço sinérgico de crescimento, no qual se me afigura que as medidas a que atrás me referi poderão assumir um importante contributo.

Ora, se aos citados factores naturais somarmos a proximidade geográfica dos Açores com os principais “centros de conhecimento” dos EUA, e as parcerias que têm vindo a ser firmadas em importantes domínios, rapidamente se conclui pela indispensabilidade do esforço, publico e privado, que tem de ser feito para que os Empreendedores possam aceder, de uma forma ainda mais eficaz, ao “Oceano de Oportunidades” que os Açores potenciam, como importante elemento de diferenciação desta Região.

Posto isto, resta-me concluir afirmando o seguinte: Ninguém duvida que a missão de um Empreendedor é mudar o mundo! Todavia, tal só é conseguido quando este tem a possibilidade de transformar a sua ideia num novo modelo de negócio de sucesso. E, por isso, é preciso criar as citadas condições para que estes novos modelos de negócio sejam capazes de alcançar diferenciação ímpar no mercado.

Não tenho, pois, qualquer dúvida em reconhecer que o Governo Regional dos Açores reflecte uma notável percepção sobre o valor actual e prospectivo que a dinamização do Empreendedorismo poderá assumir para o desenvolvimento económico da Região. São disso evidência os desenvolvimentos recentes de todas as iniciativas já lançadas, e por lançar, atrás mencionadas. Há, agora, que continuar a navegar por este mar, com toda a energia moral evidenciada pela Nação portuguesa na sua época áurea dos Descobrimentos.

in Revista Empreendedor (Governo Regional dos Açores)


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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