Empreender… mas sem capital de risco!

No âmbito da Presidência Aberta, um importante destaque foi atribuído às visitas do Presidente da República a diversos institutos politécnicos e empresas de TIC, como forma de dar visibilidade a nichos de investigação e inovação, promover o desenvolvimento empresarial português e incentivar a capacidade empreendedora dos jovens portugueses.

Mas até que ponto fará sentido promover a investigação, a inovação e o desenvolvimento de novos negócios perante a quase total inércia verificada em Portugal, em matéria de investimentos em projectos em fase de concepção ou com poucos anos de vida?

Registe-se que, de acordo com as estatísticas da APCRI, no ano 2007, em Portugal, apenas um único investimento de Capital de Risco, no montante de 200 mil euros, foi efectuado num projecto “seed capital”, em oposição às 13 empresas criadas, por esta via, em 2006, e às 12 empresas criadas em 2005. Em igual medida, a preocupação impera nos investimentos realizados na fase “start-up”, uma vez que, em 2007, apenas se realizaram 48 investimentos, contra os 57 realizados em 2006, e os 53 realizados em 2005.

Veja-se, a este propósito, o seguinte quadro:

Link para o quadro

Fonte: APCRI, Ernst & Young, Gesventure

Paralelamente, e a agravar este cenário, sublinhe-se que ao nível do Finicia apenas uma vintena de projectos foram criados com recurso ao micro capital de risco (com uma participação pública de 45.000 euros), frustrando, assim, todas as expectativas iniciais que apontavam para o lançamento de 1300 novos negócios.

O investimento cada vez mais arredado dos projectos “early stage”, além de adverso ao desenvolvimento da capacidade empreendedora dos jovens portugueses, gera retrocesso e não crescimento económico.

Ademais, este mau desempenho é totalmente oposto aos resultados alcançados na Indústria de Capital de Risco em países como Espanha ou até mesmo Itália, nos quais o investimento tem batido verdadeiros records, ascendendo em cada um deles, em 2007, a 4 mil milhões de euros. Em Portugal, e a inverter esta ordem, atente-se que, em 2007, foram alcançados 169 milhões de euros, em 2006, 180 milhões de euros e, em 2005, 245 milhões de euros.

Veja-se, ainda, que no 2º semestre do ano passado registou-se, em França, os maiores investimentos efectuados em “early stage” desde o ano 2000, tendo abrangido um total de 147 empresas, das quais 38 em fase “seed capital”, e para as quais foram canalizados 31,3 milhões de euros.

E este mau desempenho demonstra a necessidade urgente que Portugal tem de estabelecer novas bases de actuação se queremos passar a ter uma economia mais competitiva e capaz de superar uma performance de investimento já considerada como sendo a pior dos últimos 50 anos. E essas novas bases de actuação não passarão necessariamente pela manutenção de manobras propagandísticas destinadas a publicitar aquilo que muitas vezes ainda está para acontecer ou que, mesmo existindo, nem sequer é suficiente para produzir o chamado efeito demonstração. É preciso investir mais e propagandear menos. Não é a encenação e a propaganda que trazem credibilidade aos operadores a actuar no sector de capital de risco nacional, sejam eles públicos ou privados. Não são as políticas favoráveis que sustentam o desenvolvimento da investigação e da inovação e a consequente criação de emprego e de crescimento económico. É o investimento efectivo de capital em projectos nas áreas que tanto mereceram a atenção do Presidente da República, e não somente quando estes já se encontram em fase de crescimento e consolidação, mas, sobretudo, quando ainda se encontrem nas suas fases iniciais de desenvolvimento, pois são estes que maior impacto poderão produzir em termos de geração de riqueza e de bem-estar social.

Certamente que, uma actuação mais dinâmica e efectiva por parte dos investidores, aliada a uma forte educação e cultura empreendedora e a um sistema de suporte ao empreendedor mais transversal e integrado, permitiriam chegarmos a números que se querem mas que ainda não existem, fruto de não estarmos a beneficiar das políticas favoráveis já existentes mas que, até ao momento, e a olhar às estatísticas, apenas parecem ter produzidos resultados virtuais.

 


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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