actualidade e perspectivas para 2009

 

Respondi recentemente a algumas questões apresentadas pela jornalista Séfora Silva da revista Invest e que desde já partilho com todos os leitores deste blog:

1-O que lhe parece a medida de criar um regime de excepção para empréstimos destinados aos funcionários públicos e reformados do Estado?

Pessoalmente, não me agradam regimes de excepção. Fico sempre com a impressão que de se estar a puxar a manta para tapar de um lado e destapar de outro…

Porque é que os funcionários públicos e reformados do Estado hão-de ter regalias que a generalidade dos trabalhadores e reformados portugueses, que descontam para a Segurança Social e que pagam os seus impostos (ou seja, que pagam as regalias dos Funcionários Públicos) não têm ?

Não me parece ser com medidas avulso deste tipo a melhor maneira de reformar a Administração Pública nem a de reter e de motivar as pessoas competentes que a Administração Pública ainda tem e de que tanto necessita.

 

 

2-Como qualifica a intromissão do Governo na banca? Útil, necessária ou inapropriada? Porquê?

 

Antes de mais convêm referir que no meio da actual crise de confiança – que assume proporções extraordinárias a nível global – a eventual falência de algum dos bancos do sistema bancário português em nada teria ajudado.

 

No que diz respeito à decisão política de nacionalização do BPN a mim pareceu-me um pouco precipitada uma vez que o meu conhecimento pessoal e profissional sobre a qualidade dos membros do Conselho de Administração, lideradas pelo Dr Miguel Cadilhe, me fazia acreditar ter sido possível, no mínimo, darem-lhes o benefício da dúvida relativamente à execução do Plano Estratégico que formularam para ultrapassar o problema existente. E pelos vistos os factos à posteriori até tem vindo a confirmar que talvez aquela pudesse ter sido uma boa decisão…Já relativamente ao BPP não tenho informações que me permitam emitir um juízo de valor para além de tudo aquilo que tem sido divulgado.

 

Em todo o caso o que se torna importante é que não seja admissível que estas intervenções possam de alguma forma beneficiar os accionistas dos Bancos em prejuízo dos seus clientes e dos contribuintes em geral. Da mesma forma que os accionistas são os principais beneficiados quando as coisas correm bem, quando as coisas correm mal devem suportar as perdas inerentes. É apenas uma questão de coerência, não é demagogia.

 

Espero que as entidades oficiais sejam muito rigorosas e impermeáveis às enormes pressões que vão sofrer. Infelizmente, não me sinto completamente tranquilo.

 

Espero também que a opinião pública seja particularmente exigente neste aspecto. Aqui, o papel da comunicação social é crucial.

 

 

3- Em termos económicos, que espera da evolução da economia portuguesa em 2009?

 

Nós já estamos habituados – mas não conformados – com a fraca performance da economia nacional. Mas, infelizmente não vejo muitas coisas favoráveis no horizonte a que o meu espírito de optimista se possa agarrar.

 

Não me parece que a situação actual possa ser invertida rapidamente, até porque não depende só de Portugal. Por isso, num momento de forte incerteza e de falta de visibilidade, é muito importante manter a Flexibilidade.

 

Por isso espero que o Governo não invista demasiado dinheiro e energia em projectos de retorno duvidoso que lhe possam reduzir essa flexibilidade.

 

Espero também que o Governo esteja atento às questões ligadas ao aumento da flexibilidade da economia/das empresas. Neste capítulo incluo o fomento do empreendedorismo e o desenvolvimento dum Ecossistema favorável ao financiamento de projectos empresariais inovadores nas suas fases iniciais (seed e start-up), nomeadamente no incentivo à actividade dos “Business-Angels” e no apoio a Fundos de Co-investimento.

 

Contudo não me resigno a ver o nosso País a não ter capacidade para inverter este estado de coisas e nesse sentido acredito que (i) com vontade e imaginação dos jovens portugueses, que cada vez mais estão a ser sensibilizados para a importância do empreendedorismo e da criação de empresas, (ii) associado ao facto de os aumentos na eficiência, devido aos avanços registados ao nível das tecnologias de informação, produção e comunicação, diminuírem os custos do negócio internacional, (iii) suportados pela criação daquele Ecossistema passaremos a assistir à emergência nos próximos anos de várias start-ups com características globais que contribuirão para a criação de riqueza no nosso País.


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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