Portugal e a Fazenda Pública, por Ramalho Ortigão (1882)

Partilho convosco um excerto do grande escritor Ramalho Ortigão (na foto), tirado da colectânea “Farpas”. Este texto foi escrito no século XIX e é inacreditável a sua actualidade…

 

“Trocadas as descomposturas preliminares, sobre a questão da fazenda,
decide-se que é indispensável, ainda mais uma vez, recorrer ao
crédito, e faz-se novo empréstimo. No dia seguinte averigua-se, por cálculos
cheios de engenho aritmético que para pagar os encargos do
empréstimo do ano anterior não há outro remédio senão recorrer ainda mais
uma vez ao país e cria-se um novo imposto.

Fazem-se empréstimos para suprir o imposto, criam-se impostos para pagar os
empréstimos, tornam-se a fazer empréstimos para atalhar os desvios do
imposto para o pagamento dos juros, e neste interessante círculo vicioso,
mas ingénuo, o deficit – por uma estranha birra, admissível num ser teimoso,

mas inexplicável num mero saldo negativo, em uma
não-existência – aumenta sempre através das contribuições
intermitentes com que se destinam a extingui-lo, já o empréstimo contraído,
já o imposto cobrado…

Pela parte que lhe respeita, o país espera. O quê? O momento em que pela boa
razão de não haver mais coisa que se colecte, porque está

colectado tudo, deixe de haver quem empreste por não haver mais quem pague.”

 

Ramalho Ortigão
Farpas-1882

 


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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