ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR

 

Partilho com todos os seguidores deste blog o artigo da minha amiga e partner da Gesventure, Carla Dias Coelho, publicado este mês na revista CAIS.

 

“Em Agosto de 2009, foram lançados vários Concursos, ao abrigo do Programa COMPETE, tendo em vista o lançamento de quatro grandes Fundos de Capital de Risco de apoio ao Empreendedorismo, com a dotação global de 123 milhões de euros.

 

Trata-se, efectivamente, de um impulso fundamental para potenciar o investimento dos projectos empresariais liderados por empreendedores qualificados com talento, capacidade de inovar e de criar o próprio negócio.

 

Contudo, poderá não valer de muito existirem tantos milhões para aplicar em projectos ou ideias de negócio em fases “pré- seed” e “early stages” se, segundo estudos recentemente efectuados pela Comissão Europeia sobre empreendedorismo, revelam que apenas 51% dos portugueses preferem ser “auto-empregados”. Esta percentagem, que há 7 anos atrás era de 71%, revela que os portugueses estão cada vez menos empreendedores e são dos povos na Europa que revelam menos vontade de iniciar o seu próprio negócio.

 

A aversão ao risco, a falta de capacidade de inovar, a pouca criatividade e o desconhecimento dos formalismos necessários para a criação de empresas, poderão constituir a principal justificação para a fraca expressividade que aquele número revela.

 

É, pois, neste contexto que assume especial relevância o papel de entidades que sejam verdadeiramente capazes de dinamizar e de produzir, no Ecossistema Empreendedor, um impulso tão determinante quanto conciliador dos interesses de todos os seus intervenientes, à semelhança do que se verifica em países mais evoluídos como a Irlanda, os Estados Unidos ou até o Reino Unido, onde a grande maioria dos jovens troca o emprego por conta de outrem pela criação do seu próprio negócio.”

 

Refiro-me, naturalmente, às designadas “venture catalysts”, entidades que colocam todas as suas competências e recursos qualificados exclusivamente ao serviço do Ecossistema Empreendedor, desde a fase de pré- triagem de projectos a submeter à apreciação das Sociedades de Capital de Risco a todo o importante aport atribuído aos empreendedores a partir da fase mais “embrionária” de concepção dos seus Projectos, assumindo mesmo, em alguns casos, uma postura de verdadeira partilha de conhecimento e de esforço com os Empreendedores, e fazendo parte integrante dos seus êxitos, quando alcançados.

 

O sentido útil do trabalho de uma “venture catalyst” assume, pois, reforçada expressão em países, como Portugal, que, não obstante os inúmeros Programas e iniciativas de fomento ao Empreendedorismo existentes, parecem ainda passar ao lado na arte de empreender, tal como se encontra bem evidenciado nos resultados dos estudos recentemente efectuados.

 

Estas entidades, além de atribuírem aos jovens empreendedores o necessário suporte à profissionalização das suas “ideias” e a necessária compreensão, quer do tipo de assuntos com que um empreendedor é confrontado quando leva uma ideia para o mercado, quer das técnicas que ajudam a perceber o que o mercado necessita, permitem, em igual medida, contrariar barreiras ainda tão enraizadas nos jovens portugueses – como são o medo de arriscar e a preferência pelo emprego por conta de outrem – pela relação de proximidade que mantêm com os jovens Empreendedores e pela possibilidade de incutir nos mesmos a motivação necessária para agir através da força das suas ideias e do seu valor humano. 

 

E contrariamente ao que se possa pensar, as “venture catalyst” não cobram, via de regra, valores elevados em troca da assessoria prestada. Normalmente, a intervenção das “venture catalyst”, como é o caso da Gesventure, S.A., ocorre numa fase pré-investidor e ainda antes de o projecto se iniciar. A contrapartida financeira é estipulada tendo por base uma remuneração dependente da entrada de investidores no Projecto. Trata-se de uma compensação que, além de justa porque apenas é devida em caso de sucesso na angariação de capitais para o Projecto, não acarreta qualquer ónus para o Empreendedor na fase tão crítica de arranque da sua start-up. 

 

Há, pois, que criar espaço na sociedade portuguesa para este tipo de entidades privadas, dadas as vantagens óbvias que as mesmas, pela integridade estrutural que potenciam às ideias empresariais, poderão representar a bem da evolução do Ecossistema Empreendedor nacional e da sua maior expressividade, sobretudo junto dos jovens estudantes que, apesar da boa adesão às diversas iniciativas de disseminação do empreendedorismo que se vão fazendo por todo o país junto das Escolas (ex: acções de formação, concursos de ideias de negócio, etc), ainda encaram com muita dificuldade a via da iniciativa empresarial como uma porta de entrada na vida activa.

 

Se queremos efectivamente desenvolver esforços concertados e atingir o fomento do Empreendedorismo, teremos necessariamente de reconhecer, assumidamente, o contributo útil que as entidades catalisadoras poderão produzir no sucesso das futuras empresas assentes no “pensar criativo” dos nossos jovens e potenciar o aparecimento de mais “venture catalyst” no Ecossistema Empreendedor português, para que o seu efeito positivo se repercuta de forma cada vez mais evidente no encorajamento da comunidade empreendedora que se deseja mais motivada para arriscar em novas oportunidades de negócio – e não meramente relegada para um último lugar no «ranking» da União Europeia, tal como resulta do inquérito divulgado, no passado dia 4 de Junho, pela Comissão Europeia – pois é dela que depende a competitividade do nosso país e a construção de um futuro sustentável para as empresas portuguesas.

 


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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Um comentário a “ECOSSISTEMA EMPREENDEDOR”

  1. Jorge Pires says:

    Bom artigo na explanação sumária do funcionamento das venture catalyst no fomento do empreendedorismo!
    Talvez até fosse necessário mais divulgação desta relevante actividade junto do seu público alvo.

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