Capital de Risco Universitário

 

 

Tem-se vindo a reconhecer, gradualmente, a necessidade de fomentar e melhorar em Portugal o binómio Universidade/Empresa, tendo em conta o grande fosso ainda existente entre o conhecimento cientifico que as Universidades geram e a transformação desse mesmo conhecimento em oportunidades imediatas para se comercializar novos produtos e serviços capazes de alcançar diferenciação no mercado.

 

No entanto, apesar de há muito se encontrar traçado o “diagnóstico” o certo é que a “terapêutica” continua por iniciar. Isto porque, inexplicavelmente, continuam por criar mecanismos financeiros que permitam operacionalizar esse cruzamento de interesses entre o mundo das empresas e as Universidades, tendo em conta que algures no meio haverá um encontro feliz, a bem da competitividade a longo prazo das empresas e da Economia.

E o mecanismo financeiro que se afigura mais idóneo para transformar I&D produzido pelas Universidades em Inovação empresarial será a criação de Fundos Universitários “Seed Capital”, com o envolvimento concertado do Estado, Universidades, SCR, FCR, Business Angels, Incubadoras, Parques Tecnológicos e outras entidades privadas, através dos quais sejam canalizadas para as Universidades verbas e conhecimento empresarial que permitam converter o fluxo fértil de ideias e inovações em novos negócios, criando, assim, condições para diminuir o efeito “vale da morte” a que se encontram sujeitas muitas inovações promissoras mas que nunca chegam a alcançar o mercado.

E esta realidade já há muito se encontra perfilhada por outros países. Inglaterra representa um excelente exemplo, na medida em que, desde 1998 –  data em que foi criado o 1º University Challenge Competition, com uma verba inicial de 64 milhões de Euros, 37 Universidades envolvidas e 81 investimentos efectuados – tem utilizado o capital de risco no financiamento de projectos universitários com aplicabilidade empresarial como o demonstram os investimentos efectuados na Solexa (adquirida pela Ilumina Inc (NASDAQ: ILMN)), Smart Holograms, Daniolabs, Bluegnome, Genapta, CellCentric, Lumora e a Psynova. 

Outro exemplo clarificador do processo de ligação da comunidade financeira e empresarial às Universidades, foi dado pelo Estado de Oregon, nos EUA, o qual, em 2007, criou a figura do “University Venture Development Fund”, constituído por cada uma das 8 Universidades a actuar ao nível das áreas da Ciência e Investigação, com uma dotação total de $14 milhões, repartida por cada uma delas de acordo com o seu respectivo grau de envolvimento. Esta iniciativa, foi lançada através de um Programa de Incentivos Fiscais aplicável a pessoas singulares e empresas decididas a apoiar iniciativas universitárias de I&D, tendo em vista a criação de comunidades dinâmicas capazes de transformar as descobertas de hoje nos negócios de amanhã. Também as parcerias, Governo – Universidade – Indústria – estabelecidas no âmbito do referido Fundo focalizaram-se nas iniciativas de investigação, educação empreendedora e transferência de tecnologia, tendo em vista assegurar a transposição das melhores ideias geradas nas Universidades para o mercado, a bem da Economia e do bem estar Social.

 

Os exemplos citados, aos quais se poderiam somar tantos outros, como os “Cambridge Enterprise Seed Funds”, mostram que não basta reconhecer, tal como tem vindo a ocorrer sistematicamente no nosso país, o importante papel que as Universidades podem desempenhar no desenvolvimento sustentado da Inovação empresarial, pois mais importante do que isso é possibilitar, sem mais demoras, o acesso directo das Universidades a fundos de capital semente com vista à criação de empresas inteligentes resultantes das inovações disruptivas detectadas no seio universitário. Para tal, dos responsáveis políticos espera-se uma nova visão capaz de reconhecer que os activos valiosos que as nossas Universidades representam são determinantes para o crescimento das nossas Indústrias de Inovação, e bem assim, que a criação de Fundos de Capital de Risco Universitários podem abrir a porta a ideias de vanguarda, novas tecnologias e oportunidades sem fim para o futuro de todos nós.

Francisco Banha

Vice-Presidente do Fórum para a Competitividade

 

publicado no Diário Económico de 24/01/08


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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