Empreendedores… PERIGO!

Empreendedorismo

Tenho vindo a desenvolver, entusiasticamente, ao longo dos últimos quinze anos, um conjunto de actividades tendentes à sensibilização da Sociedade Civil para a importância da criação de um verdadeiro Ecossistema de apoio ao Empreendedorismo suportado por uma Indústria de Capital de Risco transparente, dinâmica e receptiva às novas oportunidades proporcionadas por nichos de mercado ainda não explorados à escala global.

Penso, por isso, ter a credibilidade necessária para emitir um aviso sério a todos aqueles que pretendem vir a recorrer às Sociedades de Capital de Risco, por forma a darem “corpo” aos seus “sonhos” de criação/desenvolvimento empresarial. Este sinal de alerta, é tanto ou mais oportuno, quanto se multiplicam as mensagens, sobretudo oriundas das políticas públicas de apoio ao Empreendedorismo (e bem patentes no Plano Tecnológico e no mediatizado Programa FINICIA), estimulando os jovens a ter a ousadia de criar as suas próprias empresas.
Contudo, ao fim de um ano e meio de actividade aquela Entidade ainda não conseguiu concretizar os objectivos que foram traçados, não tendo por isso a Sociedade Portuguesa, e os Empreendedores em particular, beneficiado das mais-valias que este instrumento proporciona, conforme demonstram as estatísticas da APCRI, com especial ênfase para as respeitantes ao exercício de 2007 onde apenas um projecto mereceu apoio na fase seed capital.Porém, estes empreendimentos, ao serem associados ao activo “Conhecimento”, necessitam de um tipo de financiamento que não se encontra ao dispor da banca tradicional. Deste facto, resulta a emergência, um pouco por todo o mundo ocidental, do instrumento CR como sendo aquele que melhores resultados permite obter no apoio aos empreendedores qualificados do século XXI, e ao qual Portugal fez questão de se aliar, através do Ministério da Economia e Inovação ao eleger a sua capital de risco, INOVCAPITAL, como o veículo privilegiado de apoio à iniciativa empresarial.

Registe-se que, à inoperacionalidade demonstrada na concretização de novas operações, vem juntar-se a adopção de um expediente “emergente” de resolução dos problemas subjacentes aos projectos que não alcançaram o êxito, previsto nos Planos de Negócio que levaram as SCR a investirem nos mesmos. Refiro-me ao complexo instrumento jurídico da Insolvência/Falência, o qual é tanto ou mais grave quando aplicado a Projectos cujos Empreendedores até fizeram um excelente produto/serviço, fruto da sua aplicação séria e dedicada, e cuja gestão foi desenvolvida, criteriosa e ordenadamente, com o apoio de gestores profissionais, nomeados pelas SCR, que ao reportarem, tempestivamente, todas as evoluções registadas à respectiva estrutura accionista permitiram antecipar soluções, como será o caso da dissolução, muito menos traumáticas para os Empreendedores e com maior respeito pelos trabalhadores da empresa, do que esta via judicial tão hostil.

Tendo o nosso País de dar passos irreversíveis na adopção de uma Cultura Empreendedora, é de estranhar tal indiferença das SCR a este enquadramento ao resolverem os problemas na óptica exclusivamente economicista e judicial, impedindo os empreendedores de encontrar alternativas que não passem por deixar morrer os seus sonhos nos gabinetes dos administradores judiciais.

Não pondo em causa a legitimidade deste mecanismo da Insolvência como forma de dar resolução aos casos de insucesso nos projectos seed, é com muita preocupação que encaro os seus reflexos no âmbito do movimento do Empreendedorismo que emerge no nosso País. É preciso ter-se consciência que os projectos/sonhos dos Empreendedores Pioneiros não são só meras questões económicas, mas fundamentalmente o efeito demonstração que importa trazer para a Sociedade para que cada vez mais Jovens sejam capazes de criar a riqueza que tanta falta nos faz.

Mobilizar os Empreendedores sim! E essa mobilização não passa por exemplos associados à “Falência” num País adverso ao insucesso. Isso é “matar” o Empreendedorismo e, como tal, é algo que não poderei aceitar. Eis, pois, um bom motivo de aviso para que se tomem as devidas precauções no relacionamento com as SCR!

 

Artigo editado no Diário Económico de 7 de Agosto de 2008


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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6 comentários a “Empreendedores… PERIGO!”

  1. Nuno Miguel says:

    Adorei o seu artigo….Fez muito bem em expor todos estes perigos publicamente. Têm todo o meu apoio e suporte neste tipo de acções, porque Portugal não necessita de andar para trás mas sim para a frente, e se não temos pessoas fortes e com convicção para que isso aconteça, custe o que custar, inclusive a nível pessoal, não conseguimos nunca progredir…

  2. Filipe says:

    Parabéns pelo artigo de opinião publicado no Diário Económico. São precisas mentes agitadoras e activas como a do Francisco para acordar o país de alguma inércia e melhorá-lo.

  3. Pedro Luz says:

    Caro Dr Francisco Banha é uma pena que os governantes do nosso País apenas se lembrem dos Empreendedores na hora de lançarem novos Programas mediaticos de apoio ao Empreendedorismo ou quando algum deles vende a sua empresa a uma qualquer multinacional.
    Nao ha maneira de perceberem que a construçao de um verdadeiro Ecossistema de apoio ao Empreendedorismo e aos seus Empreendedores terá de ser uma forte questao de Estado.
    Gastar dinheiro em projectos seed e star-up nao é uma despesa mas sim um Investimento. Quando é que as nossas mentes pensantes interiorizam de vez este sentimento?

  4. Renato says:

    Parabens Dr Francisco Banha pela coragem demonstrada na forma como abordou tao importante e delicado tema. Contudo pergunto-lhe se com as suas boas relacoes pessoais junto de alguns dos responsaveis das SCR portuguesas nao poderia tentar fazer algo por este problema evitando-se os incomodos provocados por burocratas que trabalham nos escuros gabinetes e que nunca dao a cara na assumpcao dos seus actos que em nada contribuem para a dinamica do empreendedorismo no nosso País?

  5. Alexandre says:

    Li com interesse o artigo que colocou no seu blog em que alerta para os perigos associados a projectos apoiados por sociedades de capital de risco. Considero-o um alerta importante para todos aqueles que participam, ou pretendem participar nesse processo, como é o meu caso.

  6. Eugenio says:

    Felicito-o pelos corajosos alertas.

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