Compromisso de Solidariedade

Rui Moreira de Carvalho

Docente universitário

Publicado no Expresso a 12/02/09

É possível que o tema da responsabilidade social ainda seja dos menos compreendidos no mundo empresarial. Para nós, uma empresa socialmente responsável é a que sente, e faz sentir, e assume o esforço social de forma transparente.  

 

O movimento pela cidadania deve ter nas empresas um aliado. Estas, pelo seu poder económico e pela quantidade de pessoas que influenciam são um parceiro fulcral para a construção de uma sociedade mais justa. As boas práticas geradas por sua iniciativa, e em parceria com diversos actores sociais, são referências que podem estimular políticas públicas e apoiar outros cidadãos.

O contexto actual – marcado pela extinção de postos de trabalho e a exclusão social e, ainda, da imagem pouco ética e transparente por parte de diversos gestores de empresas tidas como ícones do sucesso – leva as empresas a repensar as suas responsabilidades e os seus impactos na sociedade. Fruto disto, algumas questões sociais que eram consideradas como colaterais, estão, finalmente, a chegar ao foco da estratégia.

Na realidade, a sociedade civil olha de forma atónita os milhões com que os governos apoiam alguns bancos e empresas. Ao mesmo tempo, assiste-se ao aumento do desemprego e ao esvaziar da esperança, sendo que, certas franjas da sociedade – portadores de necessidades especiais, jovens, terceira idade – são as mais atingidas.

Concomitantemente à luta pela preservação do emprego, é necessário apoiar a criação de micro-negócios. Incentivar o trabalho, o empreendedorismo, e a integração social deve ser um objectivo das instituições de ensino, do poder local, do governo. E das empresas.

Nesta crise, uma das lições que se destaca é a necessidade de interagir. Todos devem sentir que fazem parte da solução. Nada de milagres. Nada de perfeição. Nenhum apocalipse. Devemos cultivar uma fé intranquila, evitar dogmas, ouvir e observar bem, procurar esclarecer e definir metas. Dê-se lugar à racionalidade na liderança da escolha dos meios.

O combate à pobreza só pode ser suportado a longo prazo, e tornar-se possível através do restabelecimento do crescimento económico. Contudo, esse crescimento tem de ser endógeno, ou seja, o comboio pode andar, mas com a locomotiva colocada na retaguarda. Desta forma, temos a garantia de que todas as carruagens seguem o seu percurso e não apenas aquelas que se encontram junto dos centros de decisão.

Mais do que nunca, a sociedade vai reconhecer o mérito de quem sabe trilhar caminhos sustentáveis. A sustentabilidade deixa de ser um conceito abstracto ou um instrumento de marketing, e passa a ser a fronteira entre empresas feitas para durar e negócios passageiros. Ser sustentável, em poucas palavras, é pensar e agir com olhos no futuro. É um compromisso de solidariedade em que se viabiliza e valoriza o que todos procuramos: a construção de um mundo melhor, próspero, ambientalmente sustentável e socialmente justo.


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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