Negócio Social- uma via para o desenvolvimento

Muhammad Yunus, o economista que criou o conceito de microcrédito, sempre defendeu o empreendedorismo como meio de obtenção de necessidades básicas e para isso, fundou o Banco Grameen. Agora a sua aposta vai para o denominado “negócio social”, que se tem subjacente o altruísmo e os direitos humanos.

Parcerias, criatividade e amor ao próximo são os valores que norteiam o modelo de Yunus que leva a novas soluções no acesso à alimentação, água potável, saúde, educação, habitação, entre outras problemáticas sociais e ecológicas. A actual crise económica e ambiental, para o Nobel da Paz, inspira um novo paradigma e constitui-se numa oportunidade para educar de forma diferenciada as gerações vindouras.

O conceito de negócio social assenta no binómio do empreendedorismo e da responsabilidade social das organizações sem fins lucrativos, tendo como objectivo geral a resolução de problemas. É um negócio gerador de lucro, não necessariamente com uma margem de 20%, mas um lucro que implique que as pessoas beneficiadas possam aceder a alimentação, educação, água, energia, cuidados de saúde.

O modelo de negócio social é em si uma inovação social, pois trata-se de um negócio cujo foco é a resolução de necessidades básicas, sejam desemprego ou habitação. Numa empresa convencional, poderá haver um pequeno departamento de ajuda social ou ambiental, sem uma orientação geral para o lucro. Coloca-se a capacidade tecnológica ao serviço dos problemas sociais e com isso, pode-se obter lucro e a satisfação plena do empreendedor.

Yunus exemplifica com três negócios sociais de sucesso, apesar de, como salienta “o sucesso não deve ser medido num ou dois anos, mas num prazo mais alargado. Posso dizer que estamos no bom caminho.” Existe em negócio social no Bangladesh que consiste no fabrico de iogurtes altamente nutritivos, sendo que se educa a população para os adquirir e assim alimentar as suas crianças; existe uma outra empresa que está a criar um sistema de fornecimento pago de água, para evitar que a população faça a recolha gratuitamente no rio, o que não é sustentável ambiental e socialmente; Yunus e a sua equipa estão igualmente a constituir uma escola de enfermagem para jovens mulheres, com a finalidade de reforçar a resposta a cuidados de saúde e, em simultâneo, contribuir para a emancipação destas jovens. O denominador comum a estes negócios sociais é a sua auto-sustentabilidade e a sua independência face ao Estado.

O empreendedorismo social nas escolas deve estar, assim, cada vez mais presente nos currículos, tal como a GesEntrepreneur antecipou e já promove a nível do ensino secundário: “Quando falo com estudantes, mostram-se excitados com esta ideia”. Yunus frisa que tem de se incutir aos jovens que ser bem sucedido não é apenas ter um emprego, uma posição de topo da hierarquia e ganhar um chorudo ordenado mensal. Afinal, todos devemos querer deixar algo de marcante no mundo!

A interligação é evidente: o microcrédito é uma das formas de financiamento de negócios sociais. Passa a haver os business angels do negócio social, isto é, investidores que ajudam os empreendedores a levar a termo as suas brilhantes ideias, que resolvem problemas concretos do nosso mundo.

O funcionamento seria simples e lança-se o repto… Numa cidade como Lisboa ou mesmo Oslo- que é uma cidade rica- duas ou três pessoas poderiam juntar-se e pensar em ideias de negócio social que retirem as pessoas à pobreza ou que evitem somar mais problemas ambientais. A sua criatividade poderia ser premiada com um (micro)empréstimo que alavancasse a seu negócio social. O foco do negócio social nunca seria a ambição de se ficar mais rico, mas a aplicação do lucro para expandir o negócio, empregando mais colaboradores e colocando novas sinergias em acção para a solução de problemas concretos. No fim de contas, “todos querem deixar a sua assinatura no planeta”.

Muhammad Yunus nasceu em Chittagong, no Bangladesh em 1940 e licenciou-se emEconomia na Universidade de Daca. Concluiu o seu doutoramento na Universidade de Vanderbilt, nos EUA. Fundou o Banco Grameen em 1983 com 27 dólares e a ajuda dos seus alunos. Em 2006 foi Prémio Nobel da Paz e em 2009 recebeu, do Presidente Barack Obama, a Medalha da Liberdade.

FONTE: Visão

 


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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