Empreendedorismo Social uma nova realidade

Artigo de Miguel Gonçalves, amigo e sócio que lidera a GesEntrepreneur:

 

Miguel Gonçalves

Managing Director da GesEntrepreneur, Lda

 

O empreendedorismo e duma forma mais profunda o micro empreendedorismo, quando bem compreendido, pretende dar ao homem e à mulher que nele se envolvem não só uma melhor qualidade de vida, mas uma mais profunda consciência de si mesmo e da sua dignidade.

Manuel Canaveira de Campos

(Presidente do Instituto António Sérgio do Sector Cooperativo)

 

 

Quando falamos de empreendedorismo associamos à actividade do empresário. No entanto, empreender não significa só a criação de empresas. O empreendedorismo deve ser visto como o desenvolvimento de competências pessoais e sociais, que se podem mobilizar (se devidamente aprofundadas) em várias alturas e em diferentes vertentes da vida. O empreendedorismo deve ser visto como uma energia transformadora que tanto pode ser canalizada para a criação de uma empresa inovadora de base tecnológica, como para implementar um conjunto de acções motivadas.

 

Num contexto de grave crise económica, tem-se assistido ao agravamento dos tradicionais problemas de pobreza e emergência de novos problemas sociais. As empresas / projectos sociais surgem como possíveis soluções, pois são uma nova organização que desenvolve serviços e actividades diversas, permitindo a multiplicação de troca de serviços e produtos junto das comunidades onde são desenvolvidos.

As enormes alterações que as sociedades têm sofrido justificam esta nova atitude. Hoje, o mercado de trabalho é muito diferente do passado, os empregos para toda a vida terminaram e passaram a existir empregos precários e instáveis. Surge então a necessidade de se ser adaptável, flexível e empreendedor. Existe uma clivagem cada vez maior entre uma educação para a empregabilidade e uma economia para o empreendedorismo.

 

O empreendedorismo social comporta um elevado potencial de inovação na intervenção social e de criação de oportunidades de trabalho. Ele deve ter como objectivo a capacitação das comunidades com as ferramentas necessárias à reentrada no mercado de trabalho, seja pela adopção de uma atitude mais empreendedora face ao emprego, seja pela criação do próprio emprego. Assim, práticas como o cooperativismo, bem como o associativismo, são modelos participativos, mais democráticos e de livre adesão que ajudam a potenciar o aparecimento de novos negócios.

No entanto, o sucesso dos projectos de empreendedorismo só será possível com o envolvimento de todos os stakeholders das comunidades locais. As equipas de intervenção locais, os parceiros e outros agentes devem ser incluídos nos projectos e formados ao nível do empreendedorismo e do desenvolvimento de competências empreendedoras.

 

É necessários que estejam em sintonia com as finalidades dos projectos e que sejam capazes de identificar dentro das populações que trabalham os membros com maior potencial empreendedor, que devidamente acompanhados possam criar o próprio emprego encorajando outros a fazê-lo.

E depois de identificados esses potenciais empreendedores, eles devem ser enquadrados por tutores que os apoiem na maturação da sua ideia, na definição do seu modelo de negócio (de forma a mitigar o risco inicial de que já pouco ou nada tem) e no plano de acções para o concretizar. Sem esse apoio crucial, a taxa de mortalidade dos novos negócios será com certeza muito elevada, não permitindo o aparecimento de modelos a seguir para os que vêm atrás.

 

Mas como os empreendedores não vivem numa redoma, devem ser criados ecossistemas que o podem estimular e apoiar na criação da sua dinâmica empreendedora. E quanto o empreendedorismo estiver alicerçado na nossa cultura, mais empreendedores serão fabricados, acolhidos e ajudados a crescer. Logo, mais dinâmico e permeável à mudança será o nosso país e a nossa sociedade. Por isso, todos devemos dar o nosso contributo para uma nova geração de transformadores, nomeadamente tendo presente os seguintes factores:

  • Tudo leva o seu tempo. Ecossistemas vencedores como o de Cambridge levaram cerca de 30 anos a atingirem uma maturidade suficiente para serem auto-sustentáveis.
  • A divulgação constante de casos bem sucedidos para que o efeito demonstração possa inspirar outros a seguir os seus passos.
  • A experiência acumulada de falhanços anteriores deve ser aproveitada, pois como Henry Ford disse falhar é apenas uma forma de recomeçar de forma mais inteligente.
  • Simplificação de processos, pois criar uma empresa não deve ser um processo muito complexo, para que valha a pena para os empreendedores sociais abandonarem a economia informal (essencial para o seu processo de crescimento e amadurecimento).
  • Promoção da compatibilidade entre o estilo de vida do empreendedor e do negócio que ele pretende desenvolver, para que o mesmo não seja obrigado a perder a sua “alma” ou pôr a sua estabilidade da vida pessoal em risco.

 


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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