A evolução das civilizações

Após ter concluído o seu Doutoramento no passado dia 29 de Abril no ISCTE momento em que defendeu a sua tese sobre “Parcerias em Processos de Internacionalização: o caso português”, de forma altamente meritória, pragmática e conhecedora, conforme foi reconhecido pelos diversos membros do Júri e assistentes presentes. o meu Amigo Rui de Carvalho continua a fazer questão de nos sensibilizar para a importância dos movimentos que se vão gerando a nível mundial e que ao fim e ao cabo contribuem para a Evolução da nossa Civilização. Veja como através do artigo que o mesmo escreveu no passado sábado no Semanário Expresso.

 

 

A evolução das civilizações

Assistimos a um enorme volume de emissão de dívida pública para suportar os programas de revitalização da economia. Neste processo, os EUA são o maior emissor. E o seu valor, para além de grande, não tem uma distribuição uniforme.

A China é o maior detentor estrangeiro de títulos de dívida pública norte-americana (cerca de 1/3 da mesma). E este país começa a pôr em causa a solidez do dólar. Em Março, o primeiro-ministro Wen Jiabao introduziu o tema ao recordar que "emprestamos uma enorme quantidade de recursos aos EUA. E é claro que estamos apreensivos com a segurança dos nossos activos. Para falar francamente, estamos um pouco preocupados". Estas palavras obrigaram o Presidente Obama a responder sobre algo que não oferecia dúvidas: a capacidade de os EUA honrarem os títulos que emitem.

Por ser a maior detentora desses títulos, poderia não interessar à China colocar publicamente em dúvida a solidez desses activos. Permitiu, porém, fragilizar os EUA diante do mundo.

Na última reunião do G-20, em Abril, o presidente do Banco Central da China, Zhou Xiaochuan, publicou um artigo propondo a substituição do dólar como moeda internacional de referência para as reservas internacionais. Em seu lugar, entraria uma unidade monetária usada internamente pelo FMI (SDR), regida por um conjunto de moedas que reúne o euro, a libra, o dólar e o iene (vale evocar que a questão de uma moeda internacional de referência foi colocada por J. Keynes nos encontros de Bretton Woods em 1945).

A par disto, a China está a fechar acordos com alguns países, como a Argentina e a Indonésia, onde se utiliza o yuan nas transacções internacionais. A 19 de Maio, o Presidente Lula da Silva visitou a China. Recordando que este mercado é o “principal parceiro económico” do Brasil, referiu que pretende utilizar as moedas de cada país nas trocas comerciais e ajudar, desta forma, a promover uma “nova ordem económica”.

A desvalorização do dólar, resultante deste contexto, tende a comprometer as exportações de diversos países, em particular os europeus, a aumentar as taxas de juros e a condicionar o acesso a financiamentos. Já no início deste mês (Junho), T. Geithner, secretário do Tesouro dos EUA, à sua chegada à capital chinesa, afirmou que “ninguém se vai preocupar mais com os défices futuros do que nós já estamos".

No entanto, para alguns países emergentes, e apesar das enormes perdas potenciais com a desvalorização das suas reservas cambiais externas, esta pode ser uma “janela de oportunidade” para uma “nova ordem económica” onde, nomeadamente, o seu peso nas trocas internacionais, e na economia mundial, pode sair reforçado. E a sua representatividade nas instituições internacionais reconfigurada, com a China a assumir um importante papel na cenarização das políticas geoestratégicas globais.

Como bem sugeriu o Professor Fernando Henriques Cardoso nas Conferências do Estoril, no início do mês de Maio, “negociar em guerra é fácil: o vencedor dita as regras. Em paz é mais complicado. Esperemos que este seja o caminho”. A caminhada começou. Será, seguramente, longa. Aguardemos que seja serena. E assim evoluem as civilizações. 

 


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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