Capital de Risco: “No passa…nada!!!”

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Em 2000, quando escrevi o livro “Capital de Risco os tempos estao a mudar” introduzi o tema da importância da criação de um verdadeiro Ecossistema Empreendedor que permitisse, num futuro próximo, ao nosso País, dar o salto qualitativo necessário à sua convergência real com os países mais evoluídos da UE.

Este facto não deve ser entendido como presunção, mas apenas serve para referir que os temas do Capital de Risco e da Inovação há muitos anos que são discutidos a nível universitário, político e social, mas sem que sejam assumidos, verdadeiramente, pelos lideres do nosso país.

A comprovar esta evidência, a actividade de Capital de Risco (CR), nos últimos três anos, de acordo com as estatísticas divulgadas pela APCRI, tem menosprezado o financiamento de novos projectos, especialmente os que se encontram na fase de arranque (seed capital).

De facto, apenas um projecto foi financiado, em 2007, nenhum, em 2008, e, no primeiro trimestre de 2009, igual performance se verificou.

Deduz-se, assim, que os estágios iniciais têm sido os parentes pobres da actividade de financiamento dos projectos empresariais parecendo, este facto, tanto mais absurdo quanto as suas necessidades sao claras e a sua importância decisiva para a revitalização da nossa economia.

Todos compreendemos que os operadores de CR tendem a abster-se de investirem em projectos iniciais de forte conteúdo tecnológico ou de novos conceitos, devido aos riscos serem altos e o período de investimento ser relativamente longo.

Porém a Indústria de CR também é compromisso de longo prazo e partilha de riscos pelo que deverá, necessariamente, ter como uma das suas mais importantes responsabilidades proporcionar condições para que os empreendedores portugueses (jovens ou não) possam levar a cabo os seus projectos, uma vez que é do mais alto interesse nacional a criação de novas empresas.

Contudo, o silêncio com que este assunto tem sido tratado provoca-me o máximo de inquietação uma vez que se não conseguimos ter condições para investir em empresas inovadoras, nem preparação para assumir os correspondentes riscos, então, dificilmente, poderemos ter esperança de voltar a ver Portugal a desempenhar um papel predominante na economia global. 

Se assim for, ser um empreendedor que conseguiu criar uma start-up, em Portugal, continuará a ser um anátema, ou seja sinónimo de que ninguém se interessa por ele, lhe reconhece importância e proporciona contactos.

A criação de um Acordo “Seed Capital”, no seio da Indústria de CR nacional, que encoraje e mobilize os seus membros a investir em projectos que ainda não possuem historial e em que a perspectiva do mercado é, muita das vezes, virtualmente desconhecida, torna-se crucial para conseguir que, a curto prazo,a inovação “descole”, do nível em que se encontra, contribuindo assim para novos sucessos comerciais. 

Paralelamente a este Acordo, teremos de conseguir motivar pessoas com funções empreendedoras e de gestao corporativa e, se possível, com Capital para que assumam, com verdadeira Paixão, os benefícios associados à existência de uma Cultura Empreendedora, a nível local e regional, e que ajudem a implementá-la com a determinação, persistência e criatividade com que, ao longo dos anos, desenvolveram as suas actividades empresariais.

Concluo, dizendo que o Capital de Risco, na sua dimensão, disponibilidade e visibilidade, bem pode ser considerado o “espelho” de um país, pelo que, se nada fizermos nesta actividade, rapidamente continuaremos a ser identificados como sendo provenientes de um país chamado Portugal…

———–

O Capital de Risco nacional continua, de acordo com as estatisticas disponibilizadas pela APCRI, a não ter o papel que dele se espera na nossa Economia. Continuam a ser confrangedores os numeros registados nas fases seed e start-up e nesse sentido proponho  um Acordo “Seed Capital” entre todos os Operadores de Capital de Risco por forma a criarem-se condiçöes, a curto prazo, para ajudar a ultrapassar tal situação.

Gostava de ter a sua opinião sobre o presente assunto e se possivel que medidas sugeria que fossem reflectidas no citado Acordo

 


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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6 comentários a “Capital de Risco: “No passa…nada!!!””

  1. Miguel AIres says:

    Amigo Francisco Banha,

    “Contra factos, não há argumentos”… o CR em Portugal “não existe”, pura e simplesmente! Sobretudo na vertente de “Seed” e “Start up”.
    Não creio que alguma vez tenha tido hipóteses de vingar; nem que venha a ter. Portugal não tem nem dimensão nem cultura que o permita, infelizmente. E nada se faz para mudar, pelo menos a cultura.
    Em Portugal, o CR deste tipo (Seed e Start Up) só poderá e deverá ter um único “patrocinador”: o Governo. Canalizar 2 ou 3 centenas de M€ para investir nesta área, geridos por uma equipa capaz, ágil, que soubesse munir-se de condições para validar tecnológicamente as candidaturas, só poderia ser uma boa aposta!
    Infelizmente, as poucas entidades de capitais públicos criadas para esse efeito, são precisamente as menos capazes de o fazer.
    Fogem deste tipo de investimentos “como o diabo da cruz”.
    Eu acredito que se pode mudar esta situação!
    Há que concentrar esforços nesse sentido!

    Abraço,
    Miguel Aires

  2. António Sousa Mendes says:

    Caro Francisco Banha,

    Sou um seguidor anónimo do seu trabalho desde 2005 e felicito-o pelas suas iniciativas e por colocar os pontos nos iis. Creio que em Portugal abundam os pseudo empreendedores e pseuso empresários pois são raros aqueles que actuam sem ter a expectativa de um subsídio, de um apoio, ou de uma mãozinha do Estado. Na minha modesta opinião a solução não está no Estado (que aliás tem as costas largas) e quando muito podemos e devemos exigir que haja regras claras e duradouras que evitem oportunismos e fomentem o empreendedorismo e os empreendedores de corpo e alma. Entretanto penso que há uma massa de quadros e técnicos anónimos que podem ser mobilizados para o investimento nas start-ups portuguesas. Espero em breve poder desenvolver e apresentar-lhe pessoalmente esta ideia. Bom trabalho e boas férias (se for o caso).
    ASM

  3. JOSE CARLOS GRAÇA says:

    Caro Francisco,

    Em Portugal existe efectivamente CR mas para projectos de Early Stage . O que me parece ser efectivamente o papel da capital de risco.
    Para Start Ups o IAPMEI tem excelentes ferramentas de financiamento através do FINICIA .

    Considero que cabe aos Business Angels entrar na fase de start up devido aos baixos montantes normalmente envolvidos . Outro problema gritante é a falta de experiencia e conhecimento por parte dos promotores. Montar uma empresa não é uma brincadeira nem uma experiencia, é uma coisa seria aonde se pode ganhar e perder dinheiro.

    Os Business Angels tem um papel fundamental no preenchimento das lacunas dos promotores. O dinheiro por si só não resolve o problema, temos
    que meter mão na massa.

    Gostaria de ver os Business Angels mais activos.

    Para finalizar gostava de citar uma frase do nosso amigo EINSTEIN com um toque pessoal:

    Imaginar é fácil , difícil é fazer mas vender ainda é mais difícil

    Um abraço,

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    Caro Francisco, <BR><BR>Em Portugal existe efectivamente CR mas para projectos de Early Stage . O que me parece ser efectivamente o papel da capital de risco. <BR>Para Start Ups o IAPMEI tem excelentes ferramentas de financiamento através do FINICIA . <BR><BR>Considero que cabe aos Business Angels entrar na fase de start up devido aos baixos montantes normalmente envolvidos . Outro problema gritante é a falta de experiencia e conhecimento por parte dos promotores. Montar uma empresa não é uma brincadeira nem uma experiencia, é uma coisa seria aonde se pode ganhar e perder dinheiro. <BR><BR>Os Business Angels tem um papel fundamental no preenchimento das lacunas dos promotores. O dinheiro por si só não resolve o problema, temos <BR>que meter mão na massa. <BR><BR>Gostaria de ver os Business Angels mais activos.<BR><BR>Para finalizar gostava de citar uma frase do nosso amigo EINSTEIN com um toque pessoal: <BR><BR>Imaginar é fácil , difícil é fazer mas vender ainda é mais difícil <BR><BR>Um abraço, <BR><BR class=incorrect <a name="incorrect">Jose</A> </A>Carlos Graça <BR><BR>
  4. Raul Mota says:

    Caro Francisco Banha,
    Parabéns mais uma vez, pela seu artigo, como conhecedor (dos poucos deste país), da realidade do CR em Portugal.
    Infelizmente, as entidades responsáveis neste país, pelo desenvolvimento destas iniciativas, mostram-se por sistema autistas, em relação a quem sabe na prática e por experiência, de quanto é importante para o nosso país o desenvolvimento de novos projectos, geradores de emprego e capacidade empreendedora.
    Falo com experiência própria, da ineficiência e má gestão de quem é responsável , pelo acompanhamento e apoio a estes projectos.
    Infelizmente em Portugal (independentemente das forças políticas governantes), o apoio ao investimento, não passam de slogans eleitoralistas.
    Felizmente, há pessoas com o Dr. Francisco Banha, que com provas dadas, neste sector não se coíbe a pôr os pontos nos ii`s , doa a quem doer.
    Bem haja.
    Raul Mota

  5. Paulo Gomes says:

    Caro Francisco Banha,

    Infelizmente, na minha perspectiva, tem toda a razão no que diz: capital de risco para seed capital é mentira.

    Na minha experiência de tentar colocar uma spinoff de uma Universidade a andar, o contacto com o único programa do governo para o efeito (pelo menos que eu tenha conhecimento) foi uma perfeita desilusão: queriam que passasse um cheque em branco por 45K euros. Basicamente fiquei com aversão a CR e achei que de nada era valorizado a capacidade empreendedora de pessoas dispostas a correrem riscos para levarem uma ideia à prática.

    Acho que as pessoas à frente desse fundo não estão a ver a perspectiva de uma faixa de pessoas com um grande potencial de ideias que estão nas universidades e que não são nada encorajadas a arriscar fora do mundo académico.

    Um Abraço e continuação do Bom Trabalho,

    Paulo Gomes

  6. Anonymous says:

    Caro Francisco Banha,
    não sou de todo entendida nesta linguagem financeira, sei que tenho um projecto inovador que me lancei nele, sei que vai por portugal na vanguarda do mundo cientifico. Porque é tão inovador e revolucionário, também mexe com muitos interesses instalados. Tudo isto associado à crise, não imagina como tem sido dificl. Tenho batido a todas as portas. Mas a resposta é sempre a mesma: pois se não estivesse com essas dividas, ainda arriscava (estamos a falar de valores irrisórios para o mundo empresarial).
    Onde é que está afinal assumir o risco?
    Tenho procurado por todos os meios arranjar um busines angel. É a situação que mais interessa. Mas a resposta é a mesma. Mas a resposta é do mesmo género.
    Veja este blog
    http://cappa-postura-dtm-oclusao-dislexia.blogspot.com/
    Veja o que escreve o professor Viana Queirós quando diz: “Uma proposta minha para a criação de uma Secção de Reumatologia na MIG foi derrotada, em votação com o braço no ar, com o argumento de que eu era demasiado jovem. Tinha 33 anos de idade e não me esqueço dos opositores à minha proposta.”
    Com mais dificuldade sei que vou vencer e também daqui por anos hei-de dizer àqueles a quem um dia pedi ajuda que não me esqueci deles!!!!
    Cumprimentos
    Maria José Carrilho

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