Capital de Risco: Dinheiro vs Competências de Quem o Gere…

Nos últimos dias através de alguns Orgãos de Comunicação Social temos tomado conhecimento de algumas medidas que se encontram a ser estudadas tendo em vista contribuir para o crescimento da economia e estímulo às iniciativas empreendedoras.

De facto quer através de alguns responsáveis do Governo quer de especialistas que os tem estado a apoiar, os jornais vão permitindo saber que está em estudo a Fusão das Sociedades de Capital de Risco, nas quais o Estado Português tem a maioria accionista, que se torna necessário criar um Fundo com Dimensão para apoiar os projectos que se encontram nas fases iniciais do seu processo de desenvolvimento, que é necessário criar uma rede de incubadoras ligadas ao meio universitário assente em fundos de micro-capital de risco e/ou fundos universitàrios ou até mesmo que se torna necessário trazer fundos de capital de risco internacionais para o mercado português por forma a introduzir no mesmo as chamadas “best practices”.

Naturalmente que junto do cidadão comum o anuncio “cirúrgico” destas medidas e projectos de intenções, é capaz de estar a criar um clima de expectativa de que algo de positivo se encontra em vias de acontecer no nosso País.

Adicionar aos critérios economicistas de redução de custos, sempre bem vindos em épocas de “vacas magras”, cenários que tem por suporte ideias defendidas por especialistas, em centenas de livros,nomeadamente os que referenciam as sempre bem sucedidas experiências de Silicon Valley ou do MIT, faz pressupor que finalmente irão ser, ou estão a em vias de o ser, criados os mecanismos necessários a que tudo corra bem no financiamento das novas empresas e do empreendedorismo nacional.

Porém,ao longo de mais de 20 anos,de dedicação à causa do empreendedorismo e do financiamento de novas empresas, fui-me habituando a constatar este modus operandi de boas intenções – e destas como sabemos está o inferno cheio – sempre que existe mudança nas cores políticas que nos vão governando.

Não posso, por isso, deixar de manifestar a minha surpresa pela forma como estes importantes assuntos continuam a ser encarados por quem tem a responsabilidade de exigir o melhor aproveitamento possível dos recursos que temos ao nosso dispor, quer estes sejam de caracter organizacional, institucional ou Humano.

De facto que me importa a mim e ao cidadão comum que venham a ser postos em prática um conjunto de novas ideias ,como aquelas que atrás enunciei, se posteriormente (i)não se potenciarem e optimizarem as infra-estruturas existentes, (ii) não se beneficiar da experiência e do mérito dos Recursos Humanos que melhor as tem vindo a implementar (iii) ou não se modificarem as razões fundamentais que se encontram associadas à falta de visão e de perfil daqueles que tem a responsabilidade de gerir os Organismos e Programas – ou seja o dinheiro para promover o financiamento do empreendedorismo qualificado – que foram e virão a ser criados ?

Para que se possa ter presente este meu pensamento recordo que no Primeiro Governo do Eng José Sócrates uma das primeiras decisões que foi tomada no âmbito do Ministério da Economia e Inovação era precisamente – vidé a estranha coincidência com a actual vontade do presente Governo…- fundir todas as Sociedades de Capital de Risco, em que o Estado Português possuia maioria accionista…

E o que aconteceu realmente?

Apenas a incorporação da carteira de participadas da PME Investimentos na PME Capital e posterior alteração da denominação desta para InovCapital, continuando a actuar de forma independente as SCR : AICEP Capital, Caixa Capital, Turismo Capital e depois mais tarde a própria PME Investimentos que voltou, estranhamente, a exercer a função de Operadora em vez de apenas Gestora de Fundos de Fundos…

Mas no entretanto entre as intenções iniciais e a solução encontrada ocorrerem factos altamente lesivos do interesse Nacional, que ainda hoje nos encontramos a pagar.

Relembro, por exemplo, a substituição do Presidente do Conselho de Administração da PME Investimentos, Dr João Vicente Ribeiro, que em apenas dois anos – infelizmente no ultimo ano de mandato as reuniões e “discussões” à volta do modelo conceptual que suportava a “tal fusão” limitou a sua actividade…- conseguiu com os seus colegas de Administração e a sua Equipe de Operacionais apoiar a criação de 56 empresas de base tecnológica, facto nunca antes nem posteriormente alcançado, num montante aproximado de 56 Milhões de euros.

De realçar a particularidade dos citados investimentos terem sido em sindicato/parceria com Fundos Privados de Capital de Risco precisamente aquilo que agora se advoga, e bem, como uma boa solução a adoptar.

Empresas como a Bioalvo, Biotrend, Alfama, Fibersincing, Biotecnol, BioSurfit, Outsystems, To Life – esta alienada passados dois anos com uma mais valia de 3.3 milhões de euros num investimento inicial de 2.2 milhões de euros – e tantas outras tiveram a sua origem e a sua sustentabilidade nesses dois anos de ouro do Venture Capital Nacional.

Na força da capacidade de liderança e de empreendedorismo com que a citada Administração exerceu as suas responsabilidades na Gestão do Dinheiro que estava sob sua responsabilidade, residiu muito do êxito então registado.

Para que se possa ter consciência da verdadeira revolução que na altura foi introduzida, pelo então Lider da PME Investimentos, no financiamento de novos projectos importa referir que nos anos compreendidos entre 2007 e 2010, segundo dados da APCRI, apenas foi realizado um investimento na fase “seed capital” por parte de todas as SCR inscritas naquela Associação Sectorial.

Tenho consciência que, tal como diz a sabedoria Popular ” de factos passados pouco reza a história” e que por isso nada se poderá fazer para os modificar,contudo no mínimo o que se pode pedir é que os erros cometidos sejam analisados de forma conscienciosa e séria para que não se venham a repetir no presente e no futuro.

Ora ao ler notícias como aquela que o Jornal Sol trazia na sua edição de ontem, de que a AICEP se irá fundir com o IAPMEI e que por força desse facto irá ser eleito um novo Presidente dessa Instituição, alertou-me para as consequências negativas que essa decisão poderá vir a provocar no Ecossistema Empreendedor Português.

Sem colocar em causa o extenso e altamente elogiado curriculum profissional e o Conhecimento Científico que o Professor Braga de Macedo é possuidor , torna-se essencial reflectir sobre a eventual saída deste Organismo do seu actual Presidente, Dr Luis Filipe Costa, tendo em vista o elevado conhecimento que o mesmo possui do Ecossistema Empreendedor português e de cada um dos seus Actores.

De facto o seu empenho pessoal, entre outros atributos, na:

(I) criação do Fundo de Co-Investimento com Business Angels, no montante de 42 Milhões de euros.

(ii) dinamização da sua rede de contactos junto da Associacao Europeia e Mundial de Business Angels, respectivamente a EBAN e a WBAA fruto de diversas participações internacionais junto dessas importantes Comunidades.

(iii) resolução de diversos casos de reforço de posições accionistas em projectos na fase de arranque que se encontravam em situação de quase encerramento de actividade e que por força da sua acção ainda hoje se encontram com possibilidades de se tornarem em sucessos empresariais.

(iv) afectação de meios humanos e materiais necessários à implementação a nível nacional de 14 Plataformas Finicia que agregam, desde Universidades, Institutos Politécnicos, Incubadoras, Associações de BA, Entidades de micro-crédito, micro capital de risco e de Garantia Mútua.

(v) participação em dezenas de eventos de âmbito nacional dedicados à Promoção do Espírito Empreendedor e à consciencialização da sua
importância na criação de uma Sociedade mais rica e solidária,

São performances demasiado importantes que devem contribuir para que tudo se faça para evitar que se repita o erro cometido, pelo Governo, no citado ano de 2007, de amputar o Ecossistema Empreendedor Nacional de um dos seus principais impulsionadores e dinamizadores.

Uma Sociedade que não sabe aproveitar o valor daqueles que pelo seu mérito e conhecimento possuem o perfil e a capacidade de Liderança para contribuir para a sua Evolução é certamente uma Sociedade que a cada momento está a afastar-se daquelas que sao as melhores práticas das Nações que marcam a diferença na actual Conjuntura Global!!!

Principalmente quando esses Líderes actuam e têm responsabilidades junto das Comunidades de Empreendedores e de Operadores de Capital de Risco o reconhecimento desse mérito é ainda mais importante uma vez que estamos perante duas das mais importantes alavancas que suportam o sucesso daquelas Nações.

Se assim não for, ou seja se profissionais com o perfil dos Drs João Vicente Ribeiro e Luis Filipe Costa continuarem a ser afastados dos Orgãos de decisão, à frente dos quais revelaram grande capacidade na gestão da causa Pública, por questões associadas à táctica politica então de nada valerá ao nosso País a introdução das medidas que agora se encontram a ser equacionadas.

Independentementes de as
mesmas serem formuladas por um “conjunto de sábios” portadores do “Know How” teórico das melhores escolas internacionais de gestão.

Porque os bons Programas e Organismos bem estruturados são uma condição necessária – para que a vontade,dos Políticos e dos seus assessores, possa ser posta em prática -mas não suficiente pois sem Lideres que possuam as Competências para os gerir dificilmente o êxito será o resultado final que os Portugueses tanto precisam na Mudança de Paradigma que se exige à Sociedade Portuguesa.

A comprovar esta minha forte convicção termino dando conta de que o Governo Americano através da Comissão Federal para as Comunicações (FCC), anunciou ontem que o 911, serviço de emergência norte-americano equivalente ao nosso 112, vai passar a receber alertas através de SMS, vídeos, fotografias
e informação georreferenciada enviada automaticamente a partir de dispositivos eletrónicos na posse de quem pede ajuda.

Esta notícia que parece desenquadrada do tema desta minha, já extensa, reflexäo pode surpreender os leitores mas se lhes recordar que em 2007 uma start-up portuguesa apoiada por uma SCR, onde o estado português possuia maioria accionista, por Business Angels, no qual eu próprio me incluia, lançou no mercado português uma plataforma tecnológica, para implementação do serviço agora anunciado nos EUA então talvez esta informação passe a fazer todo o sentido.

Realmente assim o entendo porque quando a citada Plataforma – inclusivamente tinha ganho um Prémio pela sua originalidade junto da Comunidade Europeia – após ter merecido o forte interesse dos responsáveis do INEM, não foi posteriormente adjudicada pelos respectivos Organismos Ministeriáveis, reforça o meu ponto de vista de que Portugal precisa muito mais de Lideres, com o Perfil dos referidos, na Gestão dos Organismos Públicos de Apoio ao Empreendedorismo e ao Financiamento de novos projectos, do que de novas medidas por melhor que estas sejam do ponto de vista da mensagem e dos interesses dos Politicos que se encontram no Poder !!!

Francisco Banha
Presidente da Gesventure e Membro da Direcção das Associação Europeia e Mundial de Business Angels


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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