A Pátria e os outros portugueses

Foto com Prof. Aníbal Cavaco Silva

Foto com Prof. Aníbal Cavaco Silva

A Pátria e os outros portugueses

Através dos Órgãos de Comunicação Social os portugueses tiveram conhecimento que o Senhor Presidente da República irá deslocar-se a S. Francisco e a Toronto entre 25 de Fevereiro e 1 de Março.

Porque, em Novembro de 2011, tive o privilégio de integrar a Comitiva do Senhor Presidente da República, quando este se deslocou a Washington e à Califórnia, sei por experiência pessoal quanto importante se torna conhecer a riqueza humana que constituem esses portugueses que tiveram a coragem de partir para um destino desconhecido.

Efectivamente, e apesar de ser um elemento estruturante da sociedade portuguesa ao longo dos séculos, a emigração passa praticamente despercebida na comunidade nacional. E quando é evocada, a linguagem utilizada é na maior parte dos casos impregnada de preconceitos que não traduzem as autênticas vivências dos portugueses que vivem no estrangeiro, mais conhecidos por emigrantes, como realisticamente explica o Ex-Consul de Portugal em Liége e Antuérpia, José Rebelo Coelho, no seu excelente livro «A PÁTRIA E OS OUTROS PORTUGUESES» que como já perceberam dá título ao presente texto e que, em boa hora, me foi oferecido por um português que vive no Luxemburgo ou seja o meu grande amigo Luis Galveias!

De forma a suprir esta lacuna, que faz com que os portugueses do interior e os portugueses do exterior vivam de costas voltadas, torna-se de facto importante a iniciativa mais uma vez promovida, pelo Presidente Cavaco Silva, que irá certamente contribuir para um maior conhecimento recíproco ainda por cima numa altura em que a regeneração nacional, que se impõe, não pode deixar de beneficiar do valor acrescentado que os mais de cinco milhões de portugueses espalhados pelo mundo lhe pode adicionar.

Naturalmente que muitos me dirão que esta ideia nada tem de novo pois até Eça de Queirós não hesitava em dizer que a emigração é um factor de civilização, quer para o país de origem, quer para o país de destino, isto independentemente das razões da partida e da escolha do local de chegada.

Contudo, como as minhas opiniões, são normalmente suportadas com base na minha experiência profissional e de acordo com a visão que tenho das tendências que consigo descortinar no ambiente geo-estratégico que vivemos, não podia deixar de partilhar convosco o meu testemunho relativamente ao intercâmbio conseguido entre a comunidade portuguesa de Business Angels, com actividade em Portugal, e a comunidade de empresários portugueses que vivem nos EUA e particularmente na Região da Califórnia, o qual só foi possível por ter tido a felicidade de incorporar a comitiva do Senhor Presidente da República que visitou a Comunidade Portuguesa instalada na Califórnia.

De facto após o estabelecimento dos primeiros contactos, no âmbito da visita do Senhor Presidente da República à Califórnia, em Novembro de 2011, com alguns dos empresários portugueses residentes nesta importante Região dos EUA, que foram sendo aprofundados de forma regular, nomeadamente em Abril último quando o signatário deste texto participou na Conferência Americana de Business Angels num painel dedicado ao tema “O Poder da Diáspora” foi possível atingir um nível de interesse muito elevado, por parte dos citados empresários, em particular pelo seu Líder, Armando Pereira, na constituição de um Fundo de Venture Capital originalmente na Califórnia tendo em vista o investimento em start-ups portuguesas em regime de sindicação com um Fundo de Co-Investimento que se pretenda venha a ser promovido pelo Governo português.

 

2013 ACA Summit - Diaspora Investment

2013 ACA Summit – Diaspora Investment

 

S. Francisco Speech ACA Conference” – ficheiro *.pdf (0,87 MB)

Business Angels in Portuguese Diaspora” – ficheiro *.pdf (2,78 MB)

Diaspora Investing – State of the Art” – ficheiro *.pdf (0,38 MB)

 

Importa, no entanto, ter presente que este resultado só foi possível de ser alcançado porque também tem sido possível contar com o apoio inexcedível do Dr. Paulo Portas quer na qualidade de Ministro de Estado e dos Negócios Estrangeiros quer mais recentemente na qualidade de Vice Primeiro Ministro, da Adjunta do Senhor Vice Primeiro Ministro, Dra. Graça Nunes Silva e do Senhor Cônsul de Portugal em S. Francisco, Dr Nuno Mathias, bem patente na promoção e dinamização de um conjunto de eventos, na Região da Califórnia, que tem contribuído para a mobilização e sensibilização de um número significativo de empresários e gestores de descendência portuguesa para a importância de se associarem à presente iniciativa de constituição de um Fundo de Co-Investimento para a nossa Diáspora.

 

Francisco Banha e Paulo Portas

Francisco Banha e Paulo Portas

 

O empenho, dedicação e resiliência foram factores determinantes para que neste momento a Direcção da FNABA e os Promotores do Fundo Navigator Navigator Technology Fund – Veículo a utilizar pelos empresários portugueses residentes nos Estados Unidos da América para investirem em start-ups com origem em Portugal – estejam em condições de dar sequência às reuniões que terão de se realizar tendo em vista a criação das condições que permitam a constituição do citado Fundo de Co-Investimento para a Diáspora.

Para que se possa compreender a importância desta partilha de conhecimento, entre os portugueses do interior e os portugueses do exterior, convém salientar que nos últimos dois anos e meio a Comunidade Portuguesa de Business Angels, efectuou 125 investimentos, em 93 start-ups com menos de três anos, num montante global de 16,3 Milhões de euros.

Acresce que à disponibilidade actualmente existente de mais de 25 milhões de euros irá ser adicionada uma verba de 15 milhões de euros através de um Concurso a ser lançado no corrente mês de Fevereiro por parte da PME Investimentos, que associado ao efeito de contágio que se prevê venha a ocorrer junto dos diversos actores do Ecossistema Empreendedor Nacional, faz pressupor que nos próximos dois anos o número de investimentos em start-ups irá, finalmente disparar no nosso País.

Ora se nos recordarmos que a tipologia de empresas alvo de investimento por parte dos Business Angels nacionais se caracteriza pelo facto de as mesmas serem lançadas por jovens empreendedores qualificados e por soluções disruptivas que visam satisfazer necessidades, de segmentos de clientes, que são comuns à escala global então fácil será perceber a importância de estabelecermos pontos de ligação com a comunidade de empresários que constituem a Diáspora Portuguesa.

Mesmo tendo presente que algumas destas start-ups, financiadas por Business Angels, possam receber um feedback positivo do mercado português, na fase do seu lançamento, tal não significa que, em termos económicos e financeiros, as mesmas sejam actractivas para captar o interesse de Sociedades de Capital de Risco, quer nacionais quer estrangeiras, como suporte ao seu desenvolvimento empresarial.

É dentro deste contexto que considero essencial concretizar, segundo o Alto patrocínio do Senhor Presidente da República e a Orientação do Governo de Portugal e do Senhor Vice Primeiro Ministro em particular, o lançamento de um Fundo de Co-Investimento que alavanque os Fundos que os empresários e gestores da Diáspora Portuguesa invistam em start-ups que tenham a sua origem em Portugal – como são o caso das start-ups que foram, e continuarão a ser apoiadas pelo menos até Junho de 2015 por Business Angels nacionais, no âmbito do Fundo de Co-Investimento promovido pelo Programa Compete- contribuindo dessa forma para que as citadas start-ups beneficiem do seu “Smart Money” na entrada dos seus produtos e serviços nos, atractivos, mercados onde desenvolvem a sua actividade empresarial.

Termino recorrendo uma vez mais às sábias palavras do Dr José Rebelo Carvalho quando em jeito de conclusão teve a lucidez para constatar «que estando Portugal a viver actualmente um dos períodos mais difíceis da sua história contemporânea, poderá contar com os portugueses que vivem no estrangeiro para vencer essa situação. Todavia, isso implica também que deverá trata-los em plano de igualdade de cidadania com os demais cidadãos nacionais que vivem no território nacional, e não como os outros portugueses.»

Fazendo votos de que esta minha mensagem seja portadora de uma esperança que consiga despertar nos Portugueses além-fronteiras o impulso empreendedor que os leve a organizarem-se e a considerarem nas suas estratégias de desenvolvimento empresarial a originação de projectos nascidos no Ecossistema Empreendedor Nacional, por um lado, e que por outro exista dos decisores Políticos nacionais a forte vontade de conceber um projecto político inovador e abrangente, de que o Fundo de Co-Investimento atrás mencionado poderia ser a alavanca impulsionadora, que seja capaz de obter a adesão dos portugueses que constituem a nossa importante Diáspora.


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels"). Director da EBAN e da WBAA

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