Está a fazer uma semana da morte de um dos maiores empresários e empreendedores portugueses de sempre, José Manuel de Mello. Trata-se de uma referência incontornável no panorama empresarial português cuja morte jamais me seria indiferente.
Nas palavras de outra figura de renome no nosso panorama nacional, Américo Amorim, o falecido empreendedor “tinha uma capacidade única de olhar o futuro com esperança, tendo contribuído e muito, para o desenvolvimento económico e social do país”. Uma verdadeira "referência geracional", nas palavras deste outro empreendedor.
Neto do fundador da CUF, Alfredo da Silva, José Manuel inicia a sua vida profissional na empresa do avô, vendendo adubos ao Médio Oriente. Ainda antes de Abril de 1974, partilha a gestão da CUF com o irmão Jorge de Mello e desenvolve igualmente actividades industriais (Lisnava e Setenave) e inicia actividades ligadas à banca, seguros e saúde. Como recorda Amorim, no final dos anos 60, o grupo CUF já empregava 95 mil colaboradores, expressando a sua dimensão.
Com a Revolução dos Cravos, José Manuel de Mello vê as empresas fundadas pelo seu avô serem nacionalizadas e sai do país. Esteve em Inglaterra e na Suíça e o seu espírito empreendedor manteve-se: teve negócios na Nigéria, EUA e Brasil, que vendeu pouco antes do seu regresso a Portugal.
Sendo, como recorda Amorim, “irreverente, corajoso, progressista e lutador”, José de Mello faz uma parceria com a sociedade financeira Morgan Guaranty Trust e o Deutsche Bank em 1983, que se revelaria determinante para o seu regresso a Portugal, pois desembocou na formação do Banco Mello, seguradora Império, Sociedade Financeira Portuguesa e, posteriormente, no Grupo José de Mello.
Após o seu regresso, o empreendedor, recupera a Lisnave (manteve-a até á sua falência); a partir do Hospital CUF forma um grupo hospitalar com residências para idosos; inicia-se na produção de vinhos e desenvolve algum turismo e imobiliário. Não conseguindo recuperar o Banco Totta (que havia fundado a partir da compra de uma antiga casa bancária), cria o Banco Mello e chega a ser o principal accionista do BCP (posição de que depois prescindiu).
Este “homem livre nas convicções e na sua conduta” (como afirma Amorim) reforçou em 1999 a sua posição no Grupo José de Mello, centrando-o na indústria e na saúde. Actualmente, o Grupo tem participações na Brisa, CUF, José de Mello Saúde, EFACEC e EDP.
José Manuel de Mello, pai de 12 filhos e fumador inveterado, retirou-se da vida empresarial em 2004. Há três anos, uma pneumonia e subsequente paragem respiratória deixaram-no em coma.
Com o seu falecimento, o também empreendedor Américo Amorim afirma que “Portugal fica mais pobre porque perde um combatente contra a resignação e a aceitação das fatalidades”. José de Mello deu um fulgurante contributo ao desenvolvimento económico e social do nosso país, sendo uma fonte de inspiração para todos os empreendedores.