“…Para quem viveu sob Salazar – e já deve haver pouca gente -, o que falta nesta biografia é, naturalmente a atmosfera do regime. Porque não existia uma ditadura, existiam milhares. Cada um de nós sofria sob o seu tirano, ou colecção de tiranos, na maior impotência. A família, a escola, a universidade, o trabalho produziam automaticamente os seus pequenos “salazares” que, como o outro, exerciam uma autoridade arbitrária e definitiva que ninguém se atrevia a questionar.
A deferência – se não o respeito – por quem mandava era universal; e essa educação na humildade ( e muitas vezes no vexame) fazia um povo obediente, curvado, obsequioso, que se continua a ver por aí na sua vidinha, aplaudindo e louvando os poderes do dia e sempre partidário da ” mão forte” que “mete a canalha na ordem”…” Vasco Pulido Valente comentando, no Público de 5.09.10, a biografia de Salazar elaborada recentemente por Filipe Ribeiro de Menezes.