Uma nova bolha na Internet?

Na edição de hoje do Diário Económico e a pedido da Jornalista Sara Mota emiti a minha opinião sobre os recentes IPO de empresas que desenvolvem negócios assentes na Internet e em particular nas Redes Sociais que não podia deixar de partilhar convosco. Aguardo os vossos sempre proactivos comentários:

Há uns dias recebi através das redes sociais um jogo onde todos nós podemos brincar aos investidores de capital de risco. Enquanto bolhas flutuam, podemos atirar notas e vê-las aumentar, diminuir ou rebentar. No final, todas rebentam.

O jogo, que não é mais do que uma peça de humor, não representa o sector de capital de risco mas está lá perto. Os que investem, sejam eles business angels ou fundos de capital de risco, sabem que há um grande risco em cada operação que se faz. Dizem as estatísticas que por cada 10 investimentos, um torna-se um sucesso e gera um retorno de 1000%, 3,5 ficam assim-assim e geram o retorno integral do capital até 5 vezes e os restantes investimentos – 5,5 “rebentam” e só geram prejuízo. A média, porém, situa-se nos 120% obtidos num período de 3,6 anos, a acreditar nos dados publicados pela NESTA no mercado britânico.

O IPO do LinkedIn é considerado uma das primeiras grandes entradas no mercado aberto de capitais por uma rede social (seguiu-se por exemplo à rede de partilha de carros Zipcar em Abril). Em Junho o Groupon iniciou o processo para um IPO que se estima possa vir a público por $1000 milhões, representando uma hipotética valorização da empresa nos $20.000 milhões. Redes como o Facebook e Twitter entre muitas outras, permanecem na esfera da especulação com investimentos sucessivos de capital de risco que compram e vendem as suas participações com base em expectativas futuras de rendimento – acrescento que o Facebook e o Twitter estão avaliados no mercado secundário em $76.000 milhões (mais do que a Boing ou a Ford) e $7.700 milhões, respectivamente).

Apesar de ter consciência que a realidade actual é bem diferente da registada em 2000- altura em que conhecemos a “bolha internet”- uma vez que o mercado está muito mais consolidado, não só ao nível das infra-estruturas com velocidades de acesso muito superiores e maior penetração da internet, como à tendência para mais compras de produtos e serviços online, área em que as redes sociais ainda têm muito espaço para crescer.

Receio, no entanto, que os investidores – business angels e fundos de capital de risco – seguindo-se uns após outros a investir nas mesmas empresas, competindo entre eles e não competindo pelos negócios “menos consensuais” (descurando até o due diligence), criem uma espiral de especulação que pode resultar numa bolha, talvez não de um Facebook que vai dando cartas mas de outras redes menos consistentes.

Preocupa-me em particular o efeito que uma bolha terá sobre os business angels e por isso insisto na recomendação: procurar negócios não consensuais, em sectores não consensuais, onde seja mais provável encontrar as futuras “stars” de grande valorização.


Licenciado e Mestre em Gestão de Empresas. Presidente da Gesbanha, S.A., especialista em capital de risco e empreendedorismo, investidor particular ("business angels") e Presidente da FNABA (Federação Nacional de Associações de Business Angels). Director da EBAN e da WBAA

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4 comentários a “Uma nova bolha na Internet?”

  1. Rui Nunes says:

    Excelente reflexão. De facto, não é tão preocupante o eventual “erro” de estimativa de revenue destas empresas que lidam com o mercado digital e se cogitam valores astronómicos de valorização, mas sim o que uma queda possa significar para os outros potenciais investimentos, que alvo de um maior escrutínio e temor poderão prejudicar.
    Haveria que ter consciência da diferenciação e apostar em inovação consistente e evitar a corrente de fluxo que por vezes pode ser enganadora.

  2. Joao Coelho says:

    Amigo Banha,

    Estes movimentos para o mercado Português não têm qualquer relevância, até porque não há BAs em Portugal a investir nesta área, pelo menos nunca ouvi falar. Para ser sincero, e na forma como analiso a evolução das redes sociais, é minha convicção que o FaceBook vai ser uma nova web, uma web à parte.

    Há redes sociais que estão a dar o berro (Myspace;Stumble entre outros) e quer-me parecer, não obstante o segmento para onde o Linkedin se direcciona, que esta rede cedo ou tarde será engolida. Daí estranhar esta IPO, a não ser que o capital de crescimento nos paises anglófanos seja real .

    À escala do nosso País temos é de nos concentrar em modelos de redes, que nos EUA chamam de rendimentos de 6 digitos, criadas por pessoas com expertise na sua área profissional e que cedem conteúdos aos seus leitores por valores quase irrisórios, mas que totalizados levam a que muitos deles ganhem mais 1 milhão de dólares/ano. Comparado com as redes tipo Facebook ou Linkedin é uma valor residual mas imagina tu várias pessoas a atingirem estes valores anualmente.

    A nossa comunicação social especializada, é a minha opinião claro, devia centrar-se mais na divulgação de projectos e notícias que tenham a ver com a nossa realidade, porque estes exemplos que a jornalista te fala nunca terá qualquer efeito na nossa economia, mas os outros que te falei, podem ter.

    Um abraço …

  3. Recomendo a leitura deste artigo sobre a IPO do Groupon:
    http://www.minyanville.com/businessmarkets/articles/groupon-groupon-ipo-tech-stocks-linked/6/3/2011/id/34936
    Basicamente o que está a acontecer em muito dos casos é o típico esquema em pirâmide: novos investidores estão a pagar o retorno de investimento dos investidores que vieram antes, sem ninguém se preocupar se as empresas valem realmente o dinheiro que se está a investir. O único problema é quando a bolha arrebentar, alguém se vai queimar…

  4. Rui Nunes says:

    Caro Sr. João Coelho,

    Não partilho da sua opinião quando refere que não irá afectar o mercado português, porque especialmente no mercado digital há demasiada atenção focada no que se faz lá fora. Tudo é uma tendência que seguem cegamente, mesmo que ainda não se reflicta no mercado português. Dou o exemplo do dot-com-crash em 2000 que tantas empresas fez fechar em Portugal. Não digo que não devessem ter fechado dado que não davam lucro, mas que foram encerradas aceleradamente devido precisamente aos efeitos estrangeiros.

    Estou convicto que caso exista um retrocesso do investimento de BA no Exterior, também os investimentos em Portugal serão afectados.

    Cumprimentos

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