A crise sanitária, económica e social com que nos estamos a debater começa a provocar danos estruturais na sociedade portuguesa, sendo que a sua complexidade e magnitude nos devem obrigar a pensar, especialmente na forma de criação de valor que possa contribuir para a mitigação/eliminação desses danos.
Sendo difícil imaginar a criação de valor sem inovação, mas que esta é incerta no sentido em que muitas das tentativas de inovar se revelam infrutíferas e/ou levar muitos anos, importa ter presente as vantagens que se encontram subjacentes ao papel coletivo da inovação. Podendo este ser visto não só na interligação entre público e privado, mas também no papel que cada um de nós pode desenvolver no seio das suas organizações, sejam estas públicas, privadas ou do terceiro setor.
Neste contexto, a economista Mariana Mazzucato tem vindo a refletir de forma reiterada – nos seus livros “Entrepreneurial State”; “The Value of Everything – Making and Taking in the Modern Economy”; e mais recentemente num webinar organizado pela britânica 5X15 -, sobre a importância das aprendizagens proporcionadas pelo papel dos Estados e Governos enquanto atores fulcrais na cocriação de inovação.
Ao promoverem políticas públicas com um propósito de dinamismo e de criação de valor (assentes na ligação direta entre governo e tecnologia, inovação e empreendedorismo, fontes de financiamento e capacidade dos vários agentes económicos de assumirem o risco e a incerteza do desconhecido), as sociedades garantem uma melhor preparação para enfrentar os desafios estruturais referidos, potenciando um crescimento equitativo e sustentável.
De igual modo, Daniel Isenberg tem vindo a fazer várias recomendações aos formuladores de políticas públicas e a outros atores sobre como criar um Ecossistema que favoreça a atividade empreendedora encarada como um processo dinâmico, no qual o conhecimento seja acumulado por meio da aprendizagem e da interação entre os diversos atores envolvidos nesse ambiente propício à inovação e ao empreendedorismo.
Aprender as lições proporcionadas por este tipo de reflexões – relacionados com os processos complexos, de interações entre diferentes atores da economia, nomeadamente o Estado – deveria fazer parte da preocupação dos decisores com vista a obter-se um entendimento mais dinâmico do que fazer no contexto dos objetivos que temos para a sociedade portuguesa.
No âmbito do meu programa de doutoramento, também tentei abrir algumas frentes de diálogo com a compreensão e identificação das barreiras ao ecossistema empreendedor nacional, mostrando que a criação de valor na nossa sociedade pode beneficiar muito de uma visão ousada do papel da política pública, mesmo que para tal se tenha de encontrar métricas que permitam, tal como defendido por Mazzucato, reconhecer que o sector público cria valor através deste tipo de políticas públicas.
Acredito que estamos perante a oportunidade e o momento de sermos ousados e, daí a minha partilha e referência ao Estudo realizado sobre a temática do ecossistema empreendedor português, cuja leitura recomendo – https://tmstudies.net/index.php/ectms/article/view/970