INTRODUÇÃO
Actuando na maioria das vezes na fase inicial de um projecto, a aproximação e a negociação com os B.A assumem por vezes contornos que não se verificam com uma sociedade de capital de risco (SCR). Eis algumas nuances:
1 – Os B.A financiam normalmente os projectos na sua fase de criação e arranque, onde os montantes de investimento são, na sua maioria, pouco avultados. Tratam-se de projectos que para arrancar não necessitam de muito esforço financeiro, ás vezes o mais necessário são os contactos e a experiência que um B.A possa trazer.
2 – Nem todos os B.A são iguais, é preciso conhecer as características de cada um deles antes de se apresentar um projecto. Uma boa escolha dos B.A aos quais se apresente o projecto é meio caminho andado para um possível sucesso da operação, quer em termos de presente, quer em termos de futuro.
3 – A fase embrionária do projecto. Sendo na sua maioria projectos com pouco ou nada demonstrado, em que por vezes, pouco mais existe que a ideia com grande potencial, ao B.A colocam-se uma série de reticências que convém tornear e resolvê-las da melhor maneira.
4 – Um grau de risco elevado. Ao serem projectos na maioria em fase seed (capital semente), o grau de risco associado é maior, quando comparado por exemplo com a fase de capital desenvolvimento. São projectos em que existem muito poucas certezas, donde o risco é maior, mas a rentabilidade e os ganhos que daí podem advir são também superior.
Tudo isto leva a que, a montagem financeira de uma operação junto de um ou mais B.A se revista de particularidades para as quais o empreendedor domine e esteja preparado, sob pena de lhe poder ver fugir uma boa possibilidade de ajuda num momento crítico para o seu projecto – a fase de arranque.
DA IDEIA…. AO PROJECTO PILOTO
Muitas vezes, chegam projectos ás mãos dos investidores, e isto acontece muito em projectos de novas tecnologias, em que nada mais existe que uma ideia. Assim, é mais difícil ter-se êxito no financiamento.
Ninguém investe numa ideia, se não houver pelo menos um protótipo, algo de palpável para se poder avaliar o seu potencial.
Ninguém investe numa ideia, se não houver por detrás uma massa crítica capaz de levar a ideia avante.
Ninguém investe numa ideia, se o empreendedor não tiver algo demonstrado.
Assim, e antes de tudo, leia-se antes da elaboração de um business plan, há que ter algo para demonstrar, é aí que os investidores avaliam a sua capacidade. Ter ideias muita gente as tem, colocá-las em prática é algo mais complexo. Daí muitos empreendedores estarem neste momento a recorrer à incubação, e muitas das grandes consultoras mundiais estarem a fazê-lo nas suas organizações.
Teve uma ideia com elevado potencial, detectou um pequeno nicho de mercado, detectou uma lacuna de mercado? Já tem algo para demonstrar?
Se respondeu afirmativamente, então está em condições de passar à fase seguinte, a elaboração de um business plan.
A 1ª APROXIMAÇÃO AOS BUSINESS ANGELS
Depois de ter em atenção todos os pontos atrás referidos, a primeira aproximação ao(s) B.A escolhidos faz-se com um documento, que vulgarmente se chama de Business Plan, ou Plano de Negócios.
O que é que deverá conter um Plano de Negócios?
Devidamente estruturado, e com um sumário executivo logo ao início, de modo a que o investidor em pouco mais de um minuto conheça as linhas mestras do seu projecto, ele deverá fazer referência:
– ao mercado alvo » a quem se destina o produto ou serviço;
– às projecções financeiras » principais indicadores de viabilidade económica e financeira do projecto;
– à concorrência » quem são os concorrentes, e quais as nossas vantagens competitivas;
– ao conceito » características do produto ou serviço;
– à missão » qual o objectivo ao colocar o projecto no mercado;
– à equipa de gestão » quem são, e quais as qualificações das pessoas que estão por detrás do projecto, e que vão pô-lo em marcha;
– à oportunidade de mercado » quais as vantagens que o projecto trás para os potenciais clientes;
– ao montante de capital que se procura » qual o montante de capital que o empreendedor pretende angariar junto dos investidores.
Estas são pois algumas das informações que devem figurar num Plano de Negócios. Informações que devem estar bem estruturadas e redigidas de modo a que capte a atenção do investidor, e o leve a sentar-se consigo em privado.
Outro dos pontos importantes, é o Plano de Negócios ser o mais realista possível. Não vale a pena elaborar um Plano de Negócios que não corresponda à realidade, pois o processo de “due diligence” (recolha de informação) que o B.A vai levar a cabo, pode desmentir alguns dos dados que se possam ter mostrado.
Um Plano de Negócios deve sem dúvida fazer sonhar o investidor, mas também deve transmitir segurança e solidez. Só assim, podemos pensar na entrada deste parceiro não institucional.
Captado então que está o interesse pelo nosso projecto por parte de um ou mais B.A, entramos numa fase mais técnica, ou seja, entramos na chamada negociação e montagem financeira da operação.
A NEGOCIAÇÃO E MONTAGEM FINANCEIRA DA OPERAÇÃO
Como já referi anteriormente, nestes casos não estamos a tratar de montantes muitos elevados, até porque os projectos encontram-se na sua fase inicial. Contudo, existe uma série de particularidades que convém ter conhecimento, quando estivermos perante uma negociação com B.A.
Tendo então demonstrado interesse pelo projecto, o(s) B.A vão agora iniciar a fase da negociação com o empreendedor.
A negociação tem a ver essencialmente, com a repartição do capital, com as condições em que esse capital irá entrar na sociedade, com as funções que cabem a cada um dos sócios, com as relações futuras entre empreendedor e B.A, com os termos de saída, com o atingir de certos objectivos, etc, etc.
Tudo isto, normalmente contemplado no pacto de accionistas, é tido em linha de conta aquando do momento da participação, e por se tratarem de facto de projectos mais arriscados, exige que se recorra por vezes a determinados instrumentos, de forma a que os B.A se sintam um pouco mais seguros do seu investimento, mas o empreendedor não perca os seus direitos.
Cláusulas como o “earn out” por exemplo, são importantes, na medida em que incentivam o empreendedor a atingir as metas a que se propôs no Plano de Negócios.
A forma do capital entrar na sociedade, uma parte por capital social directamente, mas a outra por prestações suplementares (remuneradas ou não) por exemplo, que posteriormente se podem transformar em acções é outra das soluções que se podem apresentar, no sentido de, por um lado não prejudicar o empreendedor no seu financiamento e na sua quota, e por outro levar a que o investidor tenha alguma segurança adicional no investimento que faz.
Outra das questões que se costuma levantar, é a própria valorização da empresa. É óbvio que quando um B.A financia uma empresa, ou seja, coloca capital por determinada percentagem de participação na empresa, estamos a valorizá-la implicitamente. Exemplifiquemos:
– A empresa Xis, recém criada, com um Plano de Negócios profissional, e um modelo de negócio inovador, possui neste momento dois B.A interessados numa participação efectiva.
– O jovem empreendedor, já com provas dadas no seu protótipo, no qual gastou todas as suas escassas economias, não possui neste momento qualquer capital (dinheiro) para aportar ao projecto.
– O montante de capital necessário é de 50.000 euros,
para colocar o conceito no mercado, para o tornar visível, para comercializá-lo em larga escala.
– O empreendedor pretende ficar no mínimo com 51% do capital da empresa, depois da entrada dos dois B.A.
Perante este cenário, qual é a valorização que vai estar aqui implícita ?
Ora, se os B.A estiverem dispostos a colocar na empresa 50.000 euros por 49% do capital, estamos a avaliar a empresa em cerca de 98.000 euros, é o que se costuma designar de valor post money.
É que, uma coisa é certa, se os B.A nunca chegarem a aportar capital a esta empresa, ela vale praticamente zero, no limite vale o que o empreendedor gastou ao desenvolver o protótipo, este é o seu valor pré money.
A montagem financeira tem pois algumas, para não dizer muitas, particularidades que convém reflectir e ter conhecimento antes de se querer trazer um B.A para o nosso negócio. Pois a verdade é que estas são normalmente pessoas com grande know how na matéria, e que querem sem dúvida negociar ao máximo a sua posição.
Para isso, e tal como acontece no contacto com as SCR’s, é conveniente o empreendedor rodear-se de profissionais, que o ajudem em todas estas etapas do seu financiamento via capital de risco, e mais concretamente via B.A.
CONCLUSÃO
Para finalizar, só queria deixar uma pequena nota a todos os empreendedores e/ou empresas que possuem neste momento projectos necessitados de financiamento para se tornarem realidade.
– O Capital de Risco pode de facto ser uma boa alternativa, aos meios de financiamento tradicionais, e ao contrário do que muitos possam pensar, não está confinado a projectos de novas tecnologias, embora sejam estes que podem de facto proporcionar maiores retornos de capital no mais curto espaço de tempo.
– O investimento via B.A, faz todo o sentido, para projectos que necessitam de capitais para a sua de criação e arranque. Não estamos a falar de grande quantidade de capital, daí serem uma figura que normalmente aparece antes dos investimentos das SCR’s, os chamados investidores institucionais.
– Para que tenham êxito no seu financiamento via capital de risco, têm que ser projectos de elevado potencial e que subscrevam os chamados 4 M’s (Magic, Money, Market, Management).
– Não pensemos as SCR’s como “hospitais de empresas” (já lá vai o tempo). Não pensemos os B.A, como grandes capitalistas que investem em projectos a todo e qualquer custo.
Existem de facto muitos B.A (estima-se em 1 milhão em toda a Europa), com capacidade financeira, com experiência em vários sectores de mercado, com uma vasta rede de contactos, que estão realmente dispostos a investir, e em serem seus parceiros de negócio. O seu projecto preenche todos os requisitos aqui mencionados?